Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Tenho um carro preto. Antes dele, tive um branco. Ao olhar pela minha janela da Paulista só vejo carros brancos, pretos, cinzas e alguns vermelhos, muito poucos.
Não sei quando isso começou. Mas me lembro muito bem – e tenho filmes e fotos da avenida para reforçar a minha lembrança – que, antes, os carros eram multicoloridos. A Avenida, vista de cima, era cheia de pontos com todas as cores do arco íris e suas misturas.
Num momento, ontem, à janela, me perguntei porque esse mar de automóveis quase monocromáticos, me incomodava.
Descobri, enfim.
O que me incomoda é a unanimidade (Como diria o mestre Nelson Rodrigues toda unanimidade é burra), o que me incomoda é a uniformidade. É essa obediência cega ao que está na moda, ao que se usa ou não se usa. É essa Maria Vai Com As Outras que tem caracterizado o comportamento da maior parte do nosso povo nas últimas décadas.
Parece que ninguém mais pensa com a própria cabeça, ninguém mais age de acordo com a própria consciência e sim by the book. Então ficam todos brancos, pretos e cinzas, como seus lindos carrões. Parece a China comunista de Mao, onde todo mundo se vestia de azul. Ou os países muçulmanos, onde as mulheres usam burcas pretas ou cinzas ou marrons.
Mas quem orquestra esse bando de carneiros em que nos tornamos? A TV? A imprensa? O Big Brother? A política?
Quem é esse livro de regras que rege a maioria do nosso povo, incapaz, pelo jeito, de pensar com a própria cabeça, se vestir de acordo com seu próprio gosto, agir conforme a sua consciência e seus princípios? Quando foi que nos tornamos tão submissos ao que a maioria faz, ao que a maioria pensa, a como a maioria de veste ou se porta?
Gosto sempre de lembrar que – apesar de o risco ser o preço da ousadia – foram a ousadia, a contestação, o não conformismo, o não curvar-se ao previamente estabelecido, que fez a humanidade progredir.
No século XVIII cientistas provavam a impossibilidade de voo de qualquer coisa mais pesada que o ar. Poucas décadas depois Santos Dummont voava, à bordo de um mais pesado que o ar, sobre Paris.
É o não conformar-se que gera o progresso da sociedade, a evolução dos costumes, o desenvolvimento da ciência.
Se a humanidade inteira fosse se curvar ao estabelecido, sem ousar desafiar costumes, regras e crenças, ainda estaríamos morando na caverna.
Nos vestiríamos de cinza, branco ou preto.
*Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e apresentadora de TV
[email protected]
foto: FREEONE l Depositophotos