Por: Dra. Elizabeth Zamerul Ally*
É a inabilidade de manter e nutrir relacionamentos saudáveis com os outros e consigo mesmo, resultando em relações difíceis, desgastantes ou destrutivas. Na Codependência, nota-se a presença de baixa auto-estima, de expectativas irreais, da falta de bons diálogos, de discussão direta dos problemas, expressão aberta dos sentimentos e pensamentos, comunicação honesta e franca, de respeito às individualidades, de intimidade, de confiança nos outros e em si mesmo.
O termo Codependência teve origem nos estudos e trabalhos da Dependência química e foi atribuído aos familiares, partindo do princípio de que os familiares de dependentes químicos também apresentariam uma dependência, não das drogas, mas emocional, isto é, relacionada a um vínculo doentio que têm com estes dependentes.
Em média, 9 pessoas são afetadas pelo impacto da dependência química de um ente querido, número que extrapola o da família nuclear que é formada, em média, por 3 pessoas. Este é o resultado de uma recente pesquisa realizada na cidade de São Paulo, pela UNIAD/Unifesp/Inpad. A pesquisa aponta também que, além da resistência do dependente químico em aceitar o tratamento (52% dos casos), o comportamento/atitude da família (11%) é a segunda maior dificuldade encontrada no tratamento.
Convivendo com sentimentos opressores como tristeza (28%), impotência (26%), dor, angústia, raiva, desespero, culpa, pena, decepção, solidão e medo, a família do dependente químico é grupo de risco para problemas de saúde, no âmbito das doenças emocionais, psíquicas ou físicas. Este impacto corresponde aos vividos por familiares de doentes terminais. Em 34% dos casos, para aliviar o sofrimento, a família procura psicólogos, terapeutas e grupos de apoio.
Posteriormente, notou-se que esta dependência acontece em situações muito além da dependência química.
Lygia Vampré Humberg, afirma, em sua dissertação de mestrado sobre este tema, que “o tipo de vínculo aqui estudado pode ser usado como paradigma dos vínculos simbióticos”, ou seja, relações onde a dependência mútua dos envolvidos é excessiva.
A maior parte dos codependentes vem de famílias disfuncionais, isto é, que demonstraram significativa fragilidade emocional. E, por serem mais frágeis, contribuíram de forma efetiva para o desenvolvimento e instalação da dependência emocional entre seus membros.
Em geral, a pessoa codependente teve dificuldade de experimentar amor, amparo, aceitação, segurança, razoável coerência e harmonia. Em muitos casos, houve abusos, violência psicológica e até física, rigidez de regras e críticas excessivas. Por isto, desenvolveram sinais e sintomas, como a baixa autoestima, senso de identidade frágil, alta reatividade ou irritabilidade, preocupação ou cuidado excessivo com o outro, perfeccionismo, negação da realidade, uso do sexo para ganhar aprovação (no caso de se relacionar a dois); compulsões nos relacionamentos – às vezes, associadas a outros transtornos compulsivos, como o alimentar, gastos, jogos e outros, além do foco excessivo na realidade do outro, como parceiro afetivo ou filhos, em vez de focar na própria vida. Neste sentido, muitas vezes assumem pelo outro, responsabilidades que a ele pertencem. Isto pode resultar na facilitação da continuidade da doença ou problemática deste outro.
Além destes sinais, o codependente escolhe parceiros ou estabelece relacionamentos deste tipo com pessoas que também apresentam transtornos psicológicos, incluindo outras dependências. Também costumam ter padrões de comportamento como controle excessivo; manipulação do outro; necessidade de agradar (que os leva à submissão); compulsão de salvar o outro e/ou autoritarismo. Enfim, apresenta sinais e sintomas que contribuem para padrões autodestrutivos de se relacionar e viver.
Apesar deste quadro clínico ocorrer em ambos os sexos, é notória a prevalência maior no sexo feminino, o que provavelmente se explica pelos condicionamentos culturais a que as mulheres estão expostas desde cedo, ou seja, de colocarem seu foco de interesse maior e valor nos relacionamentos afetivos.
Cada um destes codependentes acredita que é outra pessoa e não ela, a responsável direta pela sua felicidade, passando então a buscá-la fora e não dentro de si, mas, como diz Melody Beattie, no seu livro Codependência nunca mais, “Se você quer se livrar disto, você tem que fazer alguma coisa para que isto aconteça. Não importa mais de quem é a falha no passado. A sua codependência se torna o seu problema e resolver os seus problemas é a sua responsabilidade.”
E como superar a Codependência?
Buscar ajuda pode ser necessário. A primeira questão fundamental é fazer um bom diagnóstico. Não existe qualquer receita rápida para mudar estes comportamentos que têm suas bases na infância. Um modelo de tratamento é o de grupos de mútua ajuda, outro é a psicoterapia e eles não se excluem. Enfim, o importante é começar a dar os passos para cuidar de si mesmo de forma muito amorosa, tendo em mente o objetivo de, ou alcançar relacionamentos saudáveis e respeitosos ou é melhor não tê-los.
*Dra. Elizabeth Zamerul Ally é médica psiquiatra, psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e Codependência
Foto: inatashko l Morguefile.com
A co-dependência é algo muito desgastante, é importante para uma pessoa que possui uma relação com um adicto lembrar que é somente ele que decide se sairá ou não do mundo das drogas.
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