Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Infelizmente, muitas mulheres ainda pensam que, tendo um filho, vão consolidar ou salvar a relação com o homem que lhes interessa.
Talvez essa idéia remonte ao tempo que em que ser mãe era o único poder disponível para as fêmeas, na sociedade.
Assim, vemos, todos os dias, nascerem crianças que, mais cedo ou mais tarde, ficarão sob responsabilidade apenas das suas mães, porque os pais se mandam.
Acontece isso com muitas adolescentes que, hoje em dia, sem grandes perspectivas de estudos, empregos, enfim, de um lugar na sociedade, consciente ou inconscientemente, se deixam engravidar na esperança de que o filho faça delas “alguém”, que lhes dê, afinal, um sentido na vida.
Acontece isso com aquelas mulheres que, vendo o casamento descer pelo ralo, engravidam na esperança de que um filho comova o homem o suficiente para que ele não parta.
Acontece isso com aquelas que, julgando ter encontrado o grande amor da sua vida, tratam de engravidar para prender o amor ao seu lado, talvez por acreditarem que o próprio amor, ou elas próprias, não serão o suficiente para garantir a continuidade e a evolução desse sentimento.
E acontece, ainda, com aquelas que, fria e calculadamente, estão pensando na sua própria segurança econômica para o futuro, e têm o filho para amarrar o homem à condição de provedor financeiro.
Quase tudo, nesses casos, é mera ilusão.
Nenhum (ou quase nenhum, porque tudo tem exceções) menino adolescente quer atar o seu futuro à menina com quem ele simplesmente “ficou”. Um momento de prazer que se transforma no pesadelo da responsabilidade de constituir família, criar e sustentar uma criança que não estava no programa. Geralmente, eles somem. E não sem razão.
Nenhum casamento que está desmoronando poderá ser salvo por um (ou mais um) filho.
Nenhuma criança será capaz de garantir a estabilidade de uma relação amorosa.
Em todos esses casos, o que sobra é filho sem pai. Ou, no mínimo, com o pai muito mais distante do que precisaria ser.
A triste verdade, em contraponto à visão romântica que a maioria absoluta das mulheres tem da maternidade, é que homens raramente se ligam em bebês. O bebê é lindinho, maravilhoso, mas é um ser vivo, que exige inúmeros cuidados, e é também um grande chato, com sua fragilidade e seus choros fora de hora. Além disso, não é um simples episódio ou uma fase na vida. É um compromisso para sempre. Um compromisso que cresce e que exige muito de quem acompanha a transformação de uma criança em adulto.
Filho, culturalmente, é muito mais curtição de mulher do que de homem. Mas as mulheres, ingenuamente, tendem a pensar que seus companheiros terão, pelos rebentos, o mesmo amor que elas estão dispostas a ter.
Historicamente, crianças são atribuições femininas. Desde os primórdios da humanidade. Homens saíam para a caça, mulheres cuidavam da prole e da caverna. Reis saíam para a guerra, rainhas cuidavam do castelo e dos príncipes e ainda tinham que agüentar as cortesãs orgulhosas de carregar na barriga o filho bastardo do rei. Trazer o rei na barriga sempre foi garantia de um futuro próspero. Mas não é mais.
Crianças precisam sim de um pai e de uma mãe. Precisam de ambos. Pode parecer muito bonito e moderno fazer uma “produção independente”. Pode parecer que o filho na nossa barriga vai garantir para nós a presença do pai dele em nossa vida. Mas “usar” uma gravidez para conseguir algum outro propósito, me parece apenas uma tremenda sacanagem com o futuro ser que se está gerando.
Nós não precisamos mais da maternidade para nos afirmar como pessoas, como cidadãs.
Ter um filho é muito bom, muito legal, mas é preciso dar ele o direito de ter um pai.
A sorte é que as mulheres são fortes e corajosas e que, mesmo se vítimas da armadilha da maternidade solitária, acabam conseguindo criar seus rebentos.
No entanto, creio que esteja na hora de as mulheres bastarem-se a si mesmas, sem precisar ter um rei na barriga para sentirem-se rainhas.
Aí, sim, quando nos bastarmos a nós mesmas, certamente geraremos príncipes.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (segunda a sexta, ao vivo, 14h00 na Rede Mulher de TV e Rede Família) e autora do livro “A Menstruação E Seus Mitos”,Ed. Mercuryo.