Por: Dra. Elizabeth Zamerul Ally*
O ser humano é um ser social por natureza, inserido em grupos desde o nascimento. Alguém que vive um Relacionamento Difícil ou Destrutivo geralmente vem de um lar disfuncional, onde adoeceu em grupo e desenvolveu forte Dependência Emocional ou Codependência e também outros tipos de dependências e transtornos psicológicos e psiquiátricos.
Por causa disto, surgem graves distorções na forma de enxergar a si mesmo e ao outro, de se comunicar, de discriminar o que é próprio ou do outro, de distinguir até onde vai a própria responsabilidade e a do outro, enfim, na dependência emocional o sujeito se mistura, se funde no outro e vive numa confusão e agonia constante, sem saber o caminho de saída.
A psicoterapia individual é a melhor opção?
Sem dúvida a psicoterapia individual pode ajudar este indivíduo, mas é comum pacientes que vivem relacionamentos destrutivos se queixarem de passar anos neste tipo de tratamento sem conseguir se recuperar suficientemente. Isto corrobora o que os estudos vêm mostrando, isto é, que este tipo de recuperação tende a ser mais eficaz quando ocorre em grupo.
Por outro lado, a prática da psicoterapia em grupo ainda “assusta” a muitas pessoas, mesmo que sofram demasiadamente. Para o dependente emocional, isto pode ganhar ainda mais importância porque os relacionamentos são o seu tema de maior fragilidade na vida. Muitos destes indivíduos são ótimos profissionais e exercem outros papéis de forma adequada e até brilhante, mas é no plano íntimo que sofrem de dificuldade de escolha de parceiros, de dar limites, de baixa autoestima e autoimagem; de fragilidade emocional e receio de ser criticado e julgado; de vergonha de se expor e revelar seus “segredos” mais íntimos e, por isto, não podem se imaginar num contexto em que poriam à prova seus maiores temores: um grupo de estranhos.
É neste contexto, o da fantasia, que o dependente emocional se retrai e se afasta por falta de informação real sobre como funciona um grupo terapêutico e, desta forma, não usufrui de uma oportunidade que poderia lhe ajudar a recuperar-se definitivamente.
Como a psicoterapia de grupo pode realmente ajudá-lo?
Especialmente por ser um grupo temático, caso em que todos os seus elementos viverão dificuldades semelhantes em seus relacionamentos íntimos, ocorrem alguns fenômenos importantes, como:
- A Ressonância – onde a fala trazida por uma pessoa do grupo vai ressoar na outra, transmitindo um significado afetivo.
- O Espelho – onde cada um se reflete ou se enxerga no outro e no seu relato, ou seja, se identifica com o outro.
- A função de “Continente”, em que o grupo coeso acolhe as angústias e necessidades de cada um dos seus integrantes.
- A Discriminação – que é a capacidade de discernir entre o que é fantasia e realidade, o que é seu ou do outro, até onde vai a sua responsabilidade e onde começa a do outro.
- O Pertencimento – a necessidade que cada pessoa tem de se sentir e de ser reconhecido como parte integrante de um grupo.
- A Comunicação – ocorre um treinamento constante e a reeducação do modo de se comunicar, escutar e se expressar.
Na prática, o grupo se constitui de três a (cerca de) oito pessoas que se encontram semanalmente por aproximadamente 2 horas para trocar experiências, confidenciar e compartilhar dificuldades, sofrimentos, conquistas e vitórias, se perceber agindo e buscar apoio em momentos difíceis. Para o dependente emocional, é uma opção de rever suas crenças, valores, hábitos e de se perceber agindo em oportunidades únicas em que aprende a viver relacionamentos saudáveis (o que não ocorre na psicoterapia individual), por estar num espaço preparado para facilitar as interações, sob a supervisão de um profissional experiente e, além de tudo, a um custo muito menor.
Em outras palavras, um grupo de psicoterapia para relacionamentos destrutivos não é um grupo de estranhos. No início, como em qualquer grupo, os relacionamentos são superficiais e vão progressivamente se aprofundando, ganhando confiança, afeto, compaixão e estes sentimentos fazem com que cada um se disponha a escutar o outro, aceita-lo como é e ajuda-lo e ser ajudado na sua dor e recuperação.
Referência:
MORAES, I.H.S & MURAT, M. Informações em saúde. Junho de 2000. <http:// www.ensp.fiocruz.br/infosaude>
*Dra. Elizabeth Zamerul Ally é médica psiquiatra, psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e Codependência – CRM 53.851
www.dependenciaecodependencia.com.br
Foto: inatashko l Morguefile.com