Por: Carla Nechar de Queiroz*
Neste nosso encontro eu gostaria de falar um pouco sobre o papel do fonoaudiólogo nas escolas. Apesar das escolas, muitas vezes serem um tanto fechadas para a atuação de outros profissionais senão os por ela contratados, o fonoaudiólogo pode excercer muitas atividades em um ambiente escolar. Como já foi dito anteriormente, o fonoaudiólogo também trabalha com crianças com dificuldades de leitura e escrita. Mas não é só no tratamento que o fonoaudiólogo está presente nas escolas.
Uma primeira atividade que pode ser desenvolvida pelo profissional em várias escolas (desde uma creche até uma escola de 2o grau) é oferecer palestras. Sim, palestras sobre temas de interesse dos pais, dos professores e da própria escola. Tais assuntos poderiam ser, por exemplo: a importância de uma triagem auditiva nos alunos, a relevância da consciência fonológica para o aprendizado da leitura e escrita, a importância de se tratar otites e suas possíveis consequências, etc.
Uma outra atividade a ser desenvolvida é o envolvimento do profissional no planejamento das atividades acadêmicas, com o objetivo de estimular a linguagem de crianças em idade pré-escolar, principalmente. Essas atividades incluem não apenas estimulação de linguagem mas também um direcionamento cuidadoso no que se refere ao vocabulário escolhido, estruturas sintáticas utilizadas, elementos morfológicos sendo introduzidos de uma maneira coerente e adequada para a idade das crianças.
Ainda dentro das atividades mais de cunho preventivo, encontra-se a realização de triagens de linguagem, fala e audição. Triagens são testes cuja realização é rápida e cujo resultado fornece ao profissional uma idéia de normalidade ou ausência desta. Por exemplo, se uma triagem de fala e linguagem fosse realizada em uma criança que apresentasse trocas de sons na fala, eu seria capaz de detectar essas trocas mas não seria capaz de dizer se esta criança apresenta ou não um distúrbio fonológico ( referente às possíveis combinações de sons da nossa língua). Um teste fonológico demora muito mais tempo do que uma triagem. Fica inteiramente ao critério dos pais a realização de uma avaliação e, caso indicado, o início de terapia fonoaudiológica. Da mesma forma, os pais tem total liberdade de optarem por outro profissional para a realização dos procedimentos descritos acima.
Já dentro de uma área de atuação mais “curativa”, o fonoaudiólogo muitas vezes é procurado por pais cujos filhos estejam apresentando dificuldade em aprender ou falar determinados sons da fala quando encontram-se na faixa etária dos 6-7 anos. Isto se deve ao fato dos professores e muitas vezes os pais quererm dar aos seus filhos todas as chances e todo o tempo necessário para aprenderem sozinhos, sem que necessitem de ajuda (“Ele pode se sentir diferente, coitado”, “Vai ficar traumatizado.”). De repente, do fonoaudiólogo é cobrado um trabalho rápido pois AGORA a criança agora TEM que aprender a falar corretamente . Esta criança estará aprendendo a ler e a escrever e, portanto, as trocas de sons na fala podem acarretar muitas confusões… isto quando a criança já aprendeu a ler e a escrever e o faz escrevendo do jeito que fala…ERRADO.
Existem várias explicações possíveis do por que uma determinada criança apresenta dificuldades para aprender a ler e a escrever mas pode ser que, em um caso específico, nenhuma destas explicações se aplique: não presta atenção, tem um problema de visão que não havia sido detectado, apresenta uma perda auditiva moderada unilateral, não entende o que a professora está falando… (este último item merece uma longa explicação que será dada em outra oportunidade).
Algumas crianças simplesmente são mais lentas para aprender do que outras e os pais deveriam perceber se seus filhos são do tipo “ligeirinho” ou não. O fato de uma criança necessitar de atenção especial não significa que ela seja burra, ou não seja esforçada na escola. Algumas vezes, é indicado que a criança troque de escola, pois existem métodos de ensino que adaptam-se melhor a determinadas crianças e simplesmente não vão ser úteis para outras.
Hoje em dia vivemos em uma sociedade na qual crianças de 4 anos além de frequentar escola muitas vezes vão também à natação, aulas de balé, futebol com os amigos…isto porque estou partindo do princípio que os pais são exigentes e NÃO deixam seus filhos em casa o dia todo assistindo TV ou jogando vídeo-game. Na nossa sociedade, a competitividade é muito acirrada já para se entrar no 1º grau de determinadas escolas. No entanto, a natureza continua fazendo crianças como há mil anos e elas sempre precisaram de tempo para brincar, amadurecer, aprender e, só depois, ler e escrever.
* Carla Nechar de Queiroz é Fonoaudióloga chefe do Serviço de Fonoaudiologia da SPO
Formada pela EPM (atual UNIFESP) – Mestrado na Illionois State University – CRFa. 5263