Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Tenho visto, seguidamente, na TV, uma famosa apresentadora, da qual gosto muito, dizendo coisas estranhas sobre as mulheres. Vira e mexe e ela solta uma frase assim como: “o que foi que a mulher ganhou com seu novo papel social?”. Parece que a moça embarcou numa onda que apareceu nos Estados Unidos, há uns dois anos atrás, e que prega a “volta para casa”. São mulheres que se cansaram de batalhar no mundo profissional e querem voltar a ser dependentes, simples donas de casa, tendo por únicas obrigações cuidar dos filhos e do lar.
Bom, eu concordo que mulheres que trabalham muitas vezes descuidam dos filhos, entregam a sua educação a terceiros, muitas vezes têm dupla jornada de trabalho e que acumulam mais estresse e mais doenças cardíacas do que as mulheres de antigamente. São as desvantagens de ter trocado a vida doméstica pela profissional.
No entanto, qual a vantagem de ser dependente economicamente? Pode ser cômodo mas, um dia, o marido nos troca pela secretária e ficamos à mercê da humilhação da pensão alimentícia, perdendo o status e o sentido. Além disso, dentro de casa, a mulher embrutece, não se atualiza, realiza apenas o fazer-para-desfazer das tarefas domésticas, não tem outro lugar no mundo que não o de mãe e, um dia, os filhos crescem e saem das suas asas para a vida própria e ela se sente vazia e abandonada.
O que me parece estar errado não é a mulher ter conquistado o direito à relaização profissional e econômica ou à vida produtiva. O errado é que ela própria, apesar de seu novo papel social, não renunciou ao título de Rainha do Lar e acumula, portanto, as duas funções. O que precisa mudar, para que a família se adapte ao novo papel social da mulher, é o próprio mecanismo pelo qual a família funciona. Se houvesse divisão de tarefas dentro do lar, haveria muito menos mulheres estressadas. Por que não ensinar à crianças e ao marido a sua responsabilidade com relação ao lar? A maioria dos maridos deixa meias e cuecas espalhadas pela casa, contando que existe uma mulher para recolhe-las. A maioria dos filhos deixa a cama para a mãe fazer. A maioria dos maridos acha indigno lavar a louça mas não acha indigno que sua mulher – que muitas vezes ocupa uma posição elevada dentro de uma empresa ou instituição – lave.
As mulheres, independentemente de terem conquistado posições profissionais com suas consequentes responsabilidades e obrigações, continuam acreditando que é obrigação delas fazer todo o trabalho doméstico ou, ainda que tenham as famosas empregadas, responsabilizar-se por todo o andamento das tarefas de uma casa. Por que? Meu avô dizia que “na casa do bom homem, quem não trabalha não come”…
Por séculos e séculos o único poder que as mulheres detinham na vida era o poder materno e doméstico. Talvez seja natural que, para elas, é difícil abrir mão desse poder em favor de outros, recém-conquistados. Mas é necessário fazer isso, reestruturar as tarefas e as obrigações do lar.
Quanto aos filhos, não me parece tão importante a quantidade de tempo que dispomos para eles, mas sim a qualidade desse tempo. Pais atentos, abertos ao diálogo, interessados no desenvolvimento das crianças e dos jovens, não precisam estar com eles 24 horas por dia para assegurar sua ascendência sobre a formação deles. O que não se pode é delegar a responsabildade da educação para terceiros. Nem a escola, nem a TV, substituem a atenção que só os pais podem dedicar aos seus filhos.
A mulher deve e precisa, sim, ter o seu papel na construção do mundo, da sociedade. Não pode se alienar no simples universo doméstico. Os direitos que o sexo feminino, a duras penas, conquistou não devem ser menosprezados com pensamentos de que “antes era melhor”. Ser alienada era melhor? Não poder votar era melhor? Ser cidadã de segunda classe era melhor?
Muitas mulheres sofreram e lutaram muito para que hoje pudessemos trabalhar, estudar, votar. E isso não pode ser reduzido ao pensamento simplista de que éramos melhores antes. Não éramos. Temos que ser melhores agora e cabe a nós encontrar os meios e as formas de fazer isso.
Voltar à dependência seria, no mínimo, muito humilhante. Um atestado de fracasso.
Um abraço e até a próxima.
Isabel
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora, sendo “Sexo Sem Vergonha” seu último livro, publicado pela Soler Editora.
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