Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Talvez eu seja mesmo do estilo naïf. A verdade, porém, é que fica difícil compreender como é que a Humanidade ainda não chegou a conclusão de que o único caminho possível para a paz sobre a Terra é a boa vontade. Traduzo, para quem ainda não compreendeu: tolerância, diálogo, espírito aberto para compreender o motivo do outro, a opção do outro, o pensamento do outro… Ou ainda, espírito democrático.
Fui jovem quando o meu país estava sob as botas da ditadura militar. Algo menos feminino, impossível. E eu, pobre de mim, trabalhando pelas mulheres… Ai, que escolha essa! Ouvi aos montes, de mulheres como eu:
“mas eu não quero que você lute por mim”
“eu não pedi pra você defender os meus direitos”
“ nós já conquistamos tudo, o que você ainda quer?”
“ feminismo de jeito nenhum… eu sou é feminina”
Naqueles tempos ditatoriais, bastava ter alguma coisa como um pensamento próprio, bastava pronunciar qualquer ideia que cheirasse à defesa dos hoje tão badalados “direitos humanos” ou “igualdade de oportunidades” para que o teu vizinho começasse a imaginar se te denunciaria como “subversiva” à delegacia mais próxima.
Tive crônicas censuradas no jornal onde escrevia. Fui barrada em algumas oportunidades profissionais porque era “livre demais”, era um perigo: afinal eu dizia o que pensava…
Vi meus ídolos musicais censurados e exilados. Vi professores que eu considerava geniais, banidos das escolas e até do país. Vi de perto a repressão do pensamento.
Por isso, nós, que ousávamos pensar, na época da ditadura, ansiávamos pela Democracia.
Ela veio, afinal. Teoricamente, em 1985. Fazem 31 anos. Trinta e Um anos!!! E ainda trazemos o Censor dentro de nós.
O resultado prático da repressão do pensamento foi a Universidade transformada em escola formadora de mão de obra e, com raríssimas exceções, não mais em fomentadora do Pensamento e da pesquisa científica.
O resultado prático da repressão do pensamento foi a ideia que privilegia o pensamento da maioria como “verdade”.
Ora, Einstein, Cristo, Gandhi, Buda, Edson, só para citar uns poucos gênios que me vêm à mente nesse momento, estavam todos na contramão da maioria, na medida em que duvidaram das “verdades estabelecidas”.
Hoje, a imaturidade democrática brasileira, cria comodistas que preferem “pensar” e “acreditar” by-the-book.
Por isso é que a tendência é a do ódio substituindo o diálogo.
Jamais poderia imaginar ver um Brasil, meio século depois do golpe militar de 1964, tão antidemocrático, tão politicamente primário e ignorante como o que tenho visto nos últimos meses.
Gente, quem pensa diferente de você NÃO É seu INIMIGO, apenas pensa diferente, é, no máximo, seu adversário. Isso aqui é uma república, não um quartel da máfia. As pessoas têm sim pensamentos diversos, ideias diversos, convicções diversas… E, numa democracia, a ideia é a de que a diversidade seja amplamente compreendida… Ai!
Amor, tolerância, compreensão e diálogo: muito melhor do que guerra! “Imagine all the people living a life in peace”.
Que a pomba da paz do gênio Picasso faça cocô na cabeça dos intolerantes. Quem sabe eles melhoram…rsrsrsrs…
*Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e jornalista especializada em
[email protected] e [email protected]
Imagem em destaque: Reprodução