Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Muitas mulheres pensam que a política é coisa de homens. Mas é a política que rege as condições de vida de todos os cidadãos, inclusive a vida das mulheres. Parece cômodo, para as fêmeas, apenas usufruir das benesses que a sociedade conquistou, ao longo de milênios, e deixar a responsabilidade da manutenção da vida para os coitados dos homens.
A falta da memória é um grande mal da humanidade, um mal que parece atingir mais às mulheres do que aos homens. É preciso, sim, conhecer a história da humanidade para conseguir entender o presente. É preciso ter uma dimensão histórica dos grandes sacrifícios dos nossos antepassados para entender tudo o que usufruímos de bom, hoje, na sociedade. Uma sociedade, é fato, que ainda tem instituições capengas e muitos erros, que ainda é socialmente injusta, mas que está milhões de passos à frente do que era oferecido aos nossos antepassados mais recentes, de até duzentos anos atrás. Imagine então o que dizer do tipo de vida que levavam as pessoas na Idade Média!
Todas as conquistas da humanidade passam pela política. Eu diria mais ainda: são fruto da política. É a vontade política que libera verbas, por exemplo, para as pesquisas científicas. É a vontade política que faz evoluir as instituições sociais. É a vontade política que faz evoluir as mentalidades e a tolerância. É a vontade política que determina se os tempos são de guerra ou são de paz.
É a política quem determina como será a nossa vida.
No Brasil, temos – e hoje, neste momento, mais que nunca – a falsa idéia de que podemos viver e dirigir nossas vidas, independentemente dos rumos da política. Pensamos, ingenuamente, que todos os políticos são apenas um bando de corruptos e que sobreviveremos, a despeito deles. Além de ser uma injustiça para tantos políticos que são sinceros, que têm vocação e que estão exercendo, como lhes é permitido, essas vocação, lutando contra oportunistas e corruptos, este pensamento é uma falácia de graves conseqüências. Faz com que nos distanciemos do nosso papel de cidadãos, um papel que podemos exercer diariamente, através da crítica que é permitida num regime democrático, e através do nosso direito de votar, de eleger nossos representantes junto ao poder.
A humanidade, por milênios, foi apenas um bando de escravos dominado pela elite que exercia o poder. E este não é um passado tão distante assim. Está bem próximo de nós.
Quando nos recusamos, por omissão, a exercer os nossos papéis de cidadania, estamos concordando com a condição de escravos. Estamos reassumindo a nossa própria escravidão.
Nossos antepassados lutaram e morreram para que chegássemos a um regime democrático. Eu sei que este mesmo regime deixa muito a desejar. Mas temos, nele, instrumentos para manifestar a nossa posição e a nossa vontade. Devemos fazer uso de todos estes instrumentos.
Voltando às mulheres, isto é ainda mais grave. Nossas avós sufragistas lutaram (e muitas morreram), sofreram, foram presas e exiladas, para que conquistássemos o direito de votar. E pouco ligamos para esse direito.
Somos todos, sobre a Terra, absolutamente interdependentes.
Precisamos, sim, nos informar e atuar sobre a vida política. Porque é a política, e apenas ela, que define a nossa felicidade.
* Isabel Fomm Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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