Por: Isabel Fomm Vasconcellos
No dia 26 de agosto de 1920 as americanas conquistaram o direito de votar.
Sufragistas históricas como Lucrecia Mott, Elizabeth Stanton, Bertha Lutz, Deolinda Daltro, lutaram, nos EUA e no Brasil, sacrificando grandes coisas de suas vidas pessoais para que tivéssemos o direito mais básico de qualquer cidadão em qualquer democracia: o do voto.
Hoje, quando há eleição, muitas de nós, mulheres, dizem: Ah, eu preferiria aproveitar o feriado para ir à praia!
Uma coisa muito comum de se ouvir, entre as brasileiras, são frases do tipo: “Ah, eu não me interesso por política, porque é tudo uma sujeira mesmo” ou “Feminista, eu? Nem pensar!”
Antes de sair repetindo bobagens como essas, talvez fosse bom lembrar das nossas antepassadas. Sim, porque o ser humano é apenas o resultado do que foram os seus antepassados. Nascemos num determinado estágio de evolução da sociedade e esse estágio foi alcançado pelos inúmeros sacrifícios, em todas as áreas, daqueles que vieram antes de nós.
Para conquistar o direito ao voto, muitas mulheres americanas, brasileiras e européias, sofreram, foram presas e até morreram. Foram mulheres corajosas, determinadas, heroínas mesmo.
E, sem elas, não seríamos o que somos hoje. Porque foi delas, e apenas delas, de mais absolutamente ninguém, a luta e a conquista de todos os direitos que, pelo menos no papel, nós temos modernamente.
Sem as feministas, sem as sufragistas e as corajosas lutadoras sociais, ainda seríamos dependentes dos maridos (e quantas de nós ainda não somos?), ainda seríamos cidadãs de segunda classe (e quantas de nós ainda não somos?), ainda seríamos consideradas incapazes como os selvagens ou as crianças (pelo código Civil Brasileiro de 1916, que vigorou até os anos 60, éramos equiparadas, de fato, aos índios e aos pequeninos).
Um cidadão que não se interessa pelas questões políticas e sociais não merece ser chamado de cidadão, pois não está participando daquilo que move o mundo, e, como somos todos socialmente interdependentes, se não participamos, pode-se aplicar a nós aquele antigo provérbio: em casa do bom homem, quem não trabalha não come.
É de uma infantilidade e de uma ingenuidade absurdas o comportamento das mulheres que renegam as suas irmãs feministas e que se recusam a tomar conhecimento dos movimentos da política.
Mas não é de todo injustificável esse comportamento. Afinal, por séculos e séculos, fomos tuteladas, consideradas incapazes e nós mesmas nos julgamos assim até hoje. Tendemos a confiar muito mais em homens do que em outras mulheres, criamos nossos filhos nos moldes da sociedade machista e pouquíssimas de nós têm a coragem de tomar o próprio destino nas mãos.
Enquanto formos o que quiseram fazer de nós, mereceremos ganhar menos que os homens em posições profissionais iguais, mereceremos ser presa fácil da sedução dos machos que se aproximam de nós pensando em sexo e nós reagimos como se eles pensassem em amor, mereceremos ver mulheres estupradas, exploradas e desrespeitadas, como, todos os dias, vemos na TV.
Enquanto acreditarmos, nós próprias, em nossa inferioridade, com relação aos homens, seja para o que for, continuaremos a ser mesmo inferiores.
Mas, acredite, você pode mudar o seu destino através da auto-confiança. Você pode conquistar o que quiser porque muitas mulheres, nossas avós, lutaram para que tivéssemos esse direito.
Hoje só depende de você. Graças a elas.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora, sendo “Sexo Sem Vergonha” seu último livro, publicado pela Soler Editora.
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