Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Existe sempre uma tendência a acreditar que as doenças vieram “do nada”.
É mais fácil ser vítima do que agente, nesse caso. Explico-me melhor, pra quem porventura ainda não tenha compreendido: somos nós mesmos quem “fazemos” as nossas doenças. Ficar doente também é dizer: olhe para mim, cuide de mim, preciso de atenção.
Há muito a Medicina sabe que a saúde se baseia no famoso tripé: físico, social, emocional.
Pra ir mais longe ainda, os chineses, desde muito antes de Cristo, já traçavam a correspondência entre os órgãos do nosso corpo e o nosso emocional. Por exemplo:
O rim e o medo. O estômago e a raiva. E muitos sábios já disseram, ao longo da Hiistória que nós somos aquilo que pensamos e aquilo que comemos.
Também é facil saber, empiracamente, que, cada vez que ficamos estressados ou tristes, nossa imunidade é afetada e, no mínimo, uma gripe nos pega.
Por isso tenho cumprimentado meus amigos no Facebook desejando-lhes “bons pensamentos”. Mas também poderia desejar-lhes “bons alimentos” e “bons movimentos”. Movimentos, sim, porque todo mundo hoje está cansado de saber que um dos maiores inimigos da saúde (física e mental) é o sedentarismo. O corpo humano foi feito para se mexer.
Se você se entupir de gordura, suas artérias vão se entupir também e você vai engrossar a estatística do Cardiômetro da Sociedade Brasileira de Cardiologia que marca uma média de mil mortes por doenças cardiovasculares, por mês, no Brasil. (hoje, enquanto escrevo esse artigo, o marcador vai acrescentar umas 20 mortes…).
Se você se entupir de tristeza, a sua cabeça repleta de sentimentos negativos, como a raiva, o medo, a insegurança, o ódio, acabará ficando doente de alguma coisa, pode crer.
Dr. Nabil Ghorayeb, meu amigo há décadas, e conhecido cardiologista do esporte, sempre alerta para o perigo de sofrer um enfarte assistindo um jogo de futebol ou uma sessão atual de votação no Senado.
A ansiedade e o ódio são os nossos piores companheiros.
Já um ginecologista que frequentou muito os nossos programas de TV, Dr. Eliano Pellini, costuma dizer que as mulheres “fazem” ovários policisticos ou outros problemas de seus órgãos reprodutivos, com suas tristezas e frustrações.
Até aqui, estamos no campo dos sentimentos e emoções como construtores de doenças. Mas a cultura, a tradição, a sociedade e seus preconceitos, também “fazem” adoecer. A condição social da mulher, nos inspirou, a mim e ao Dr. Kalil Duailbi, professor titular de psiquiatria da Unisa, o livro “Mergulho na Sombra” onde alertamos, entre outros fatores, para a discriminação social das mulheres como um dos gatilhos para a doença depressão. Agora, imagine outros estamentos sociais que sofrem discriminação, como os negros, ou os índios, ou os homossexuais…
Se, antes de trabalhar com médicos ( e de aprender muito com eles), eu já acreditava na verdade da psicossomática, depois de três décadas e meia de entrevistas com eles na mídia impressa e televisiva, estou plenamente convencida de que a saúde começa por uma mente limpa, clara, livre. Afinal os gregos já disseram, milênios antes de nós, “mens sana in corpore sano”.
Por isso é tão importante cuidar da saúde mental e da saúde social.
Existem muitos instrumentos para isso. A educação. A psicanálise. O amor. Os sentimentos positivos como a tolerância e a compreensão. A cultura… O maior deles porém é a humildade. Sim, a humildade, aquela que Hemingway dizia não ter nada a ver com a perda do verdadeiro orgulho. A humildade de olhar para o céu, numa noite estrelada, e perceber, com a razão e com o coração, que , por mais que saibamos, nada, mas nada mesmo, sabemos dessa vida.
Bons pensamentos e bons sonhos para você!
*Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e jornalista com especialização em saúde.
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