Por: Cássio dos Reis*
A falta de apetite sexual pode ter as mais variadas causas: psicológicas, físicas ou emocionais; não importa quando ocorre, sempre traz como conseqüência uma sensação desagradável de que alguma coisa não está funcionando.
Se não bastassem os fatores internos, ainda temos que lidar com os tabus que deitam e rolam sobre a sexualidade de todos nós.
As mulheres, de maneira geral, são as mais sacrificadas e, por muito tempo, foram castradas em seu desejo sexual, como se este fosse um exclusivo direito masculino.
Há bem pouco tempo atrás, era um descalabro uma mulher denunciar que gostava de sexo e que tinha prazer sexual, tinham elas que se portar com tamanho recato que pareciam seres assexuados.
Quando a sexualidade começou a chamar mais atenção, trouxe também como conseqüência mais restrições, exatamente porque se percebeu o grande trunfo que seria divulgar que o prazer era lícito e necessário. Movimento este que inclusive começou na Inglaterra, quando a rainha Vitória questionou o prazer sexual, que começava a aparecer mais explicitamente.
A masturbação aparece como a grande vilã e, assim, surge o veredicto que, até hoje a acompanha, obscurecendo o exercício lícito do prazer provocado, tornando-a pecaminosa, com um ônus de culpa e vergonha.
Não é preciso muito esforço para concluir que os mitos e tabus acontecem exatamente nesse momento, quando a sexualidade é colocada à prova.
A mulher era necessária para o prazer dos homens e à criação dos filhos. Jamais lhe fora dado o direito de sentir prazer. Por sinal, a possibilidade de uma mulher sentir um orgasmo era muito mal vista, ou melhor, nem era considerada.
Um número considerável de mulheres, ainda hoje, não consegue chegar ao ápice do prazer sexual, por conta da herança de uma educação familiar ou religiosa rígida, de um trauma infantil, angústia ou medo de uma gravidez indesejada, um descontrole emocional ou, ainda, por pretexto de estar vivendo uma situação momentânea particularmente difícil. O desinteresse do companheiro pelo sexo com a parceira, a torna ainda mais culpada, como se fosse ela sua única causadora.
A mulher é bombardeada de todas as formas, como herança traz a necessidade de provocar o prazer e a sedução e quando não acontece, é tida como a grande vilã do desejo desfeito, muitas vezes desencadeando o surgimento da frigidez.
Cabe a ambos, desenvolver a sedução, estimular e valorizar o relacionamento, possibilitando, como conseqüência, o revigoramento do desejo.
O prazer é o acessório que de presente o corpo nos oferece, facilitando a convivência e a proximidade dos parceiros, um direito adquirido e um dever a ser cumprido. O relacionamento com o outro facilita a vivência desse preceito, a dimensão da entrega e a realização com outro, torna a busca do prazer uma conquista única.
O prazer esporádico, fica envolto numa acomodação impensável de que um pequeno prazer seja suficiente e melhor do que nada, como se a capacidade de produzir ou não prazer fosse automática, independente de empenho e dedicação.
As razões são as mais variadas, a gravidez que exigindo cuidados especiais, poderia desencadear uma apatia sexual, por conta de uma pretensa fragilidade do feto, quando que, a bem da verdade, geralmente alavanca o desejo sexual, além dos aspectos emocionais, os fisiológicos que contribuem com uma maior irrigação sanguínea nos órgãos genitais, facilitando o excitamento e o desejo. O relacionamento sexual durante a gravidez traz, portanto, um benefício adicional não só para a gestante, como também para o companheiro que se beneficia deste desejo, compartilhando a mágica da gravidez de forma intensa e prazerosa.
Um outro pretexto pela falta de excitação feminina, pode também ser a dificuldade de sentir e observar os próprios órgãos genitais, imaginando-os feios e mal formados, como se isso provocasse vergonha e a rejeição dos homens. Mesmo bombardeadas com a obrigatoriedade da silhueta perfeita, do sentimento verdadeiro, da pronta felicidade, coerência e independência, o que convenhamos nem sempre é possível, as mulheres não imaginam o quão excitantes para os homens são seus genitais, sempre misteriosos, exclusivos em seu formado assim como o corpo e o próprio rosto.
Cabe a cada um de nós, desvendar os mistérios, sem prejuízo da vivência lícita e sadia da própria sexualidade, não se perdendo em mitos e tabus absurdos que só confundem e boicotam o estímulo ao prazer.
*Cássio dos Reis é psicólogo e psicoterapeuta – CRP 4476-6 com consultório em São Paulo