Por: Isabel Fomm de Vasconcellos*
Fazem parte dos sincretismos religiosos (mas, esses promovidos pela própria igreja católica) as festas chamadas “juninas” de Santo Antonio (13), São João (24) e São Pedro (29).
Quando os povos chamados “pagãos”, na Baixa Idade Média, foram subjugados pelos cristãos, estes incorporaram algumas datas do calendário de festas desses povos ao calendário da igreja.
Dançar em volta da fogueira, em trajes rurais (ou camponeses), aos pares, era típico das comemorações dos povos “bárbaros” que a igreja subjugou e dos quais queimou, nas fogueiras da Inquisição, aqueles que ousaram se rebelar e/ou que foram acusados de “bruxaria”.
Originalmente essas festas celebravam a passagem das estações e a fertilidade da terra, que chegaria ao hemisfério Norte, com a Primavera. Para celebrar a fertilidade (muitas vezes, simbolizada pela deusa Ceres) os casais se amavam ao ar livre, nas florestas, em torno das fogueiras. Essa celebração do amor, e da capacidade criativa do amor, se transformou, pela mão do cristianismo, em celebração dos santos. Sem sexo e sem amor.
John Steinbeck cita esses rituais ainda presentes na América do Norte,no começo do século XX, entre os povos hispânicos, misturados aos nativos indígenas, numa espécie de “bi-sincretismo”. Está tudo em seu maravilhoso romance “A Um Deus Desconhecido”, onde, entre outras coisas, um próspero fazendeiro, que descobria intuitivamente os antigos rituais para a fertilidade da Terra e a relação entre tudo o que está vivo — os humanos, as árvores, os animais — vê sua terra minguar e secar quando um de seus irmãos, um cristão fanático, corta as raízes do grande carvalho que era o “grande Pai” daquela terra. Seguem-se anos de seca e quando, finalmente, chove, o padre local se tranca na Igreja para não testemunhar o povo celebrando a chuva, se amando ao ar livre e acendendo fogueiras. Vamos dançar a quadrilha?
*Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e jornalista especializada em saúde. [email protected]