Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Antigamente as mulheres não sofriam tanto com a menopausa simplesmente porque morriam antes de chegar lá. A expectativa de vida nos anos 1950, para os brasileiros, era de 46,5 anos. Hoje é de 73,8.
A idade média da menopausa se situa entre os 46 e os 54 anos.
Por isso, nas três últimas décadas tanto tem se investido na procura de um tratamento hormonal adequado para aliviar as mazelas do climatério.
A rigor, menopausa que dizer a última menstruação, assim como menarca é a primeira. O período que a mulher passa depois do término do seus ciclos menstruais é o climatério. Mas todo mundo chama esse período de menopausa e não será diferente aqui.
Menopausa, para a Organização Mundial de Saúde, não é doença, mas tem sintomas e esses sintomas, decorrentes da falta do hormônio feminino produzido pelos ovários, precisam sim de tratamento.
Esses sintomas variam de mulher para mulher e, graças a Deus, não acontecem todos com todas as mulheres. Existem mesmo algumas felizardas que não tem sintoma algum. A maioria, no entanto, vai sofrer de algum deles:
– a fraqueza dos ossos que leva a osteoporose (talvez o problema mais grave);
– a falta de lubrificação vaginal e a perda de desejo;
– os calores noturnos (que são uma verdadeira tortura pois usam uma das técnicas mundialmente consagradas pelos torturdores, que é acordar o torturado várias vezes durante a noite, impedindo que ele tenha um sono normal e causando, por isso, desordens psicológicas)
– nervosismo, ansiedade, irritação ou depressão;
– aumento de peso, por diminuição do metabolismo.
Ótimo, não?
Por isso, para as mulheres modernas, a Medicina oferece vários esquemas e formas de aplicação para a reposição dos hormônios, seja esta feita com uma grande variedade de hormônios sintéticos, ou com medicamentos que reproduzem o efeito dos hormônios mas não são hormônios e ainda com uma gama variada de medicamentos fitoterápicos.
Só um bom médico pode acertar um esquema de tratamento dos sintomas da menopausa que seja eficaz para cada mulher. É uma terapêutica absolutamente individualizada e nem sempre se acerta o esquema ideal na primeira tentativa.
Mas o fato é que cada vez mais mulheres se beneficiam desses tratamentos hoje em dia.
Calores, prevenção da fraqueza dos ossos, melhora da ansiedade ou da depressão… Muita coisa pode ser resolvida e as revistas e programas de TV dirigidos às mulheres estão cansados de divulgar tudo isso.
Mas há um grave problema nas mulheres menopausadas que pouca gente discute: a falta de desejo sexual.
Falta de desejo é uma coisa que raramente acontece no sexo masculino. Mesmo que não haja ereção, por causas físicas e próprias do envelhecimento, o desejo masculino permanece. Por isso é que os comprimidinhos azuis e seus similares funcionam tão bem.
Agora imagine o drama da senhorinha com um marido sexualmente em forma e sem desejo. Existem, é claro, mulheres que pela herança cultural de uma educação repressiva com relação ao prazer sexual feminino, nunca tiveram desejo e fizeram do sexo apenas uma obrigação muito desagradável para agradar seus companheiros e dar-lhes filhos. No entanto, a maioria das mulheres adultas tem sim o desejo sexual ativo e são sexualmente felizes. Quando entram na tal da menopausa e o desejo some elas ficam desconcertadas e nem sempre procuram ajuda acreditando que “é assim mesmo”. Ora, se não é “assim mesmo” para os calores, para o risco da osteoporose, por que seria “assim mesmo” para o sexo?
Quem manda no desejo é a testosterona. Tanto no homem quanto na mulher. Embora seja o hormônio masculino, a mulher, durante sua vida reprodutiva, também produz testosterona nos ovários. Quando os ovários murcham e desaparecem (eles literalmente desaparecem algum tempo depois que cessa a sua função) hormônios sexuais femininos e masculinos ainda são produzidos pela suprarenais. Mas, se fossem em quantidade suficiente, não precisaríamos do tratamento hormonal… É por isso que médicos antenados sempre acrescentam ao esquema terapêutico hormonal de suas pacientes, a reposição também da testosterona.
Mas tudo seria muito simples se bastasse a testosterona para resolver a falta de desejo na menopausa.
Nada é só orgânico. A cabeça, a emoção, a sociedade também entram nessa salada menopausática.
Para aquelas mulheres que associaram, por toda uma vida, o sexo à função reprodutiva, quando cessa a sua capacidade de gerar filhos, cessa a principal função do sexo.
Para outras, que separaram muito bem a felicidade sexual da reprodução, mas que acreditaram no mito da menstruação como definição de sua feminilidade, a ausência da menstruação estará associada ao fim da feminilidade.
Mudanças físicas no corpo, menos definição da cintura, talvez alguns quilos a mais, tudo isso pode fazer com que a mulher se sinta menos capaz de ser sexualmente atraente.
O sexo é o assunto que, embora ainda seja um enorme tabu no nosso meio (a despeito de todas as afirmações de liberação que correm soltas na mídia), não deve ser evitado nessa fase da vida feminina. É importante recuperar o desejo não só para a saúde da própria mulher, como para a saúde da vida a dois e, consequentemente, da família.
Os médicos tem, hoje, inúmeros recursos: desde uma variedade de formas de aplicação da testosterona até alguns modernos antidepressivos que agem também sobre a libido. E uma conversa franca com um terapêuta, psicólogo ou psiquiatra, ou mesmo com uma boa amiga, podem ajudar a perceber o que está por trás dessa falta de apetite sexual. Por isso, quando o ginecologista encaminhar uma mulher para um tratamento psiquiátrico ou psicológico, não caberá mais a clássica resposta: “Doutor, estou ficando louca?”
No mundo de hoje, as mulheres não tem mais desculpa para ser infelizes.
*Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e apresentadora de TV
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