Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
A se crer nas grandes companhias de produtos para a beleza feminina, a ditadura das modelos de passarelas, jovens e magérrimas, está com os dias contados.
Desde que, há uns dois anos, uma importante empresa de cosméticos estampou uma mulher, muito bela, de 90 anos de idade, em outdoors pelas mais importantes cidades do mundo ocidental, a tendência se tornou: rever os conceitos de beleza.
Ufa! Pensei que eu não viveria o suficiente para ver este milagre!
Tanto eu tenho escrito sobre este inferno em vida que é a ditadura da magreza esquelética e vejo agora, com enorme surpresa, aparecerem nos mais importantes desfiles e passarelas, manequins que começam a fugir do padrão anorético. Costureiros famosos chamam pessoas “comuns” para participar do espetáculo. Mulheres mais velhas e menos magras começam a ser vistas como modelos de uma outra beleza. A beleza real, a de verdade.
Tanto lutaram as nossas antepassadas para que nós, mulheres, nos livrássemos das muitas escravidões que foram impostas ao nosso sexo, tanto lutaram pelo voto, pelo direito ao estudo e ao trabalho, pela igualdade civil e, em última instância, pela liberdade!
Liberdade para que?
Para se tornar, agora, escravas de uma forma considerada “ideal”? Uma forma que nos foi (de novo!) imposta, sem que ninguém nos perguntasse se estávamos dispostas a morrer de anorexia e bulimia, se queríamos essa horrível ditadura do corpo esquelético e pouco feminino que, há decadas, nos está sendo vendido com o padrão a ser atingido.
Para 99% das mulheres este padrão é inatingível. E muitas se neurotizam, sofrem, se angustiam. Academias. Cirurgias Plásticas. Bolinhas (drogas pesadas!) para tirar o apetite e que arrasam com o humor. Falta de menstruação, por falta de gordura no corpo para agasalhar nossos hormônios. Morte por anorexia.
Uma angústia eterna, perseguindo o tal corpo inatingível. Rios de dinheiro gastos com os falsos milagres vendidos pela mídia. Rios de lágrimas desperdiçadas na frustração de não se “enquadrar” no modelo.
Nossos homens, no entanto, não estão nem aí pra isso. Até preferem mesmo as mais gordinhas, que são mais sensuais. Nem sabem enxergar aquela celulitezinha que tanto nos incomoda.
Mas nós, mulheres modernas, estamos escravizadas a um padrão irreal que nos foi imposto por alguém. Quem?
Em nosso mundo capitalista, nada acontece por acaso. Tudo é orquestrado pelos poderosos .Os governos obedecem à lógica econômica e, portanto, à elite econômica, às grandes corporações. A moda não é brincadeira inocente. A moda é negócio. E negócio, muito, muito, grande. E, como negócio muito grande, que envolve milhares e milhares de indústrias de matéria prima, acessórios e eteceteras, orquestra-se obedecendo aos mesmos maestros que regem a mesma sinfonia econômica.
Parece que esse pessoal, que tem o privilégio de mandar na gente (embora a gente nem sempre perceba isso) acabou de perceber, finalmente, que o padrão de beleza imposto às mulheres nas últimas décadas, acabava dando mais prejuízo que lucro.
Mulher insatisfeita, mulher doente, mulher angustiada, frustrada, acaba, no fim da linha, consumindo menos. Ou morrendo e deixando de consumir.
Por isso, creio eu, o povo lá de cima, que dita as regras do que está in ou out, resolveu, finalmente (embora ainda timidamente) mudar o padrão de beleza feminina e colocá-lo mais ao alcance das mulheres reais.
Ufa! Que alívio.
Pena que somos, nós mulheres, ainda tão trouxas que não conseguimos, sem a ajuda da mídia da moda, por nós mesmas, individualmente, dizer “não” a este absurdo padrão de beleza esquelética, que tantas vítimas já fez pelo mundo.
Mas, nos consolemos. Vai ser mais fácil voltar a amar a beleza real que existe em cada uma de nós com a ajuda deles.
Prepare-se: o padrão vai mudar. Já está mudando. E você vai poder, afinal, viver com mais saúde, mais alegria, menos angústia e menos escravidão.
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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