Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Quem sou eu para contestar uma paixão? Só quem sente a paixão sabe o que está sentindo e o quanto ela pode transformar a vida, para o bem ou para o mal. No entanto, cientistas italianos já provaram que o estado mental da paixão termina no prazo de um ano. É como uma doença mental. Pode até ser curada com antidepressivos.
Mas a nossa sociedade, com a melhor das intenções, cantou a paixão em prosa e verso à exaustão. Os romances femininos, os livros para adolescentes, as novelas de rádio e depois de TV, os poetas açucarados, as muitas canções populares. E, ainda por cima, enfiou na cabeça das mulheres aquela proverbial confusão que mistura sexo, desejo, com paixão e amor.
Por isso, tanta gente sofre tanto, principalmente as mulheres, com amores não correspondidos. Sofre e faz sofrer. A paixão vira um estado obsessivo, doentio e, em casos extremos, leva aos crimes passionais.
Ora, pense bem. Isto é extremamente ridículo.
Paixão não é amor. Paixão é como resfriado: dá e passa. Amor é bem diferente. Amor é coisa construída, quase sempre a partir da paixão. Mas esse cara por quem você está apaixonada e que não liga pra você e por quem você sofre, pode ser tudo, menos o seu amor. Amor é pra dar felicidade. Não sofrimento.
No entanto, toda uma série de obsessões, de fixações neuróticas, de dependências afetivas e sexuais, são constantemente confundidas com o amor.
Não se iluda. Se a sua paixão não correspondida está fazendo você sofrer, está perturbando a sua vida, atrapalhando seus estudos e seu trabalho, corra. Vá correndo ao psicólogo, ao psiquiatra, procure ajuda. Não estrague a sua vida, não se negue o direito de ser feliz, por causa de um sujeito qualquer de quem, daqui a alguns anos, pode crer, você vai se lembrar com indiferença ou, pior, com desprezo.
Se um homem está fazendo você sofrer, se a atormenta com ciúmes infundados ou com o pouco caso, você não está amando. Está sofrendo um processo neurótico de dependência afetiva. E você, mulher do século XXI, que tem todos os direitos e todas as possibilidades, pode, sim, se livrar dele. Mande-o caçar sapos, mesmo que doa. Procure ajuda. Analise as suas emoções, passe a sua vida a limpo. Mas recuse-se a se deixar escravizar por um sentimento que, mais dia menos dia, vai passar.
E lembre-se de um antigo sucesso dos tempos da Jovem Guarda que diz assim: “há um alguém, na multidão, que vai lhe entregar, com amor, o seu coração”.
Amor é pra fazer a gente feliz e não o contrário. Quando faz o contrário, liberte-se. Você merece.
* Isabel Fomm Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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