Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
A coisa mais importante, para a História das mulheres, nesta semana, foi a morte de um ícone do feminismo. Mesmo que a maioria das mulheres não possa, neste momento, perceber isso. Mas a História dirá.
Exatamente no dia de seu aniversário, 4 de fevereiro de 2006, quando completava 85 anos de idade, Betty Friedan morreu de insuficiência cardíaca.
Betty é uma das mais importantes pensadoras do feminismo. Mas foi muito atacada e deu origem a essa historia, na mídia internacional, de que toda feminista é uma mulher feia. O que é uma mentira deslavada. Eu sou feminista e não sou feia e muito menos mal amada. Emmeline Pankhurst, a famosa sufragista inglesa, era linda, elegante, bem casada. Alice Paul, importante figura da luta pelo voto das mulheres, nos EUA, era uma mulher muito bonita. Assim como Margaret Sanger, a pioneira da contracepção.
Mas mesmo que fossemos todas horrorosas de feias, em que isto diminuiria a importância do trabalho político? A importância das obras? Do pensamento? Da contribuição para a liberação do nosso sexo?
Fiquei impressionada e triste com o pouco espaço que a mídia em geral deu a morte de Betty. Isto é um reflexo, sem dúvida, do machismo que ainda impera nos órgãos de imprensa e, inclusive, nas próprias mulheres.
As mulheres acreditaram na campanha contra o feminismo. Muitas mulheres inteligentes até hoje têm horror de serem classificadas como feministas. De posse de todos os direitos que suas antepassadas feministas conquistaram para elas, com muita luta política e sofrimento pessoal, muitas mulheres modernas encontram dificuldade em assumir a discriminação que ainda sofrem, sim, na sociedade. Mas, um dia, ou elas sofrem injustiças num processo de divórcio, ou percebem que o seu colega de trabalho, homem, ganha muito mais que ela exercendo a mesma função, e aí a ficha cai.
Muito da evolução feminina na nossa sociedade, deve-se também à Betty Friedan e seria natural que se desse, na mídia, destaque para o seu desaparecimento.
Betty Friedan ganhou fama mundial em 1963 quando publicou o livro A Mística Feminina.
Nessa obra ela denunciava a síndrome da dona-de-casa e seus efeitos no psiquismo das mulheres. Betty reivindicava o direito das mulheres a outras oportunidades na sociedade, onde elas pudessem desenvolver todo o seu potencial como seres humanos.
São quatro décadas desde a publicação desse livro que realmente causou grande impacto. De lá para cá ninguém pode negar que as mulheres realmente vêm ocupando uma outra posição na sociedade. Mas, naquele tempo, o único destino aceito para a mulher era o de mãe e esposa. Com raras exceções nem sempre bem vistas.
Nascida Elizabeth Goldstein em Illinois, nos EUA, ela se graduou no famoso Smith College, exerceu várias funções profissionais e, por fim, casou-se e se tornou apenas mais uma dona de casa.
Em 1963, aos 42 anos de idade, resolveu botar a boca no mundo e publicou o livro “A Mística Feminina”, onde analisava o papel das mulheres na sociedade. O livro foi um sucesso no mundo inteiro, era tudo o que as mulheres e os homens dos revolucionários anos 60 queriam ouvir. Logo, os conservadores começaram a atacá-la, dizendo que ela era feminista apenas porque era uma mulher muito feia.
Três anos depois, Betty fundou a NOW – Organização Nacional das Mulheres, para lutar pelos direitos femininos. A Now está viva e é atuante até hoje e você pode saber mais acessando seu site na Internet.
Apesar de xingada de feia e mal amada, Betty, em seus livros e artigos, sempre afirmou que as mulheres deviam ser livres e ter direitos iguais na sociedade, mas sem perder a feminilidade. “Iguais, na diferença”, tornou-se um lema para as feministas sérias do mundo.
Betty morre agora, exata e estranhamente no dia de seu aniversário (ela nasceu em 4 de fevereiro de 1921 e morreu em 4 de fevereiro de 2006) e a notícia da sua morte não ganha o destaque merecido nos noticiários. É natural. Ela, mesmo morta, ainda incomoda. Incomoda homens e incomoda até a maioria das mulheres. É muito difícil mesmo reconhecer a discriminação das mulheres, é muito difícil reconhecer que ainda é negada às mulheres a oportunidade de sua plena realização como ser humano.
Mas a obra de Betty vai ficar para sempre. E surgirão outras Bettys. Até que se concretize, finalmente, entre os sexos, a igualdade na diferença.
* Isabel Fomm Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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