Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Há 20 anos passados, quando eu comecei a fazer televisão, comemorava, em meus programas, o dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e era frequentemente ridicularizada por isso, principalmente por outras mulheres. Hoje, todo mundo comemora e é comum ver-se na mídia, na maioria das vezes em publicidade, mensagens que endeusam as mulheres, comparando-as às flores e a outras pérolas da visão machista. Mulher nunca foi flor. Mulher é gente, cidadã. Existem mulheres agressivas, criminosas, malandras, de péssimo caráter, assim como existem homens com esses mesmos atributos.
O simples fato de ter nascido do sexo feminino não nos torna imediatamente símbolos de beleza, pureza, sensibilidade, fragilidade e outras idiotices que, em tempos passados, se usava tentar incutir nas cabeças femininas, para que essas continuassem dóceis e satisfeitas com a sua posição de cidadãs de segunda classe.
Outro endeusamento comum, no dia Internacional da Mulher, é o do papel de mãe. Nem todas as mulheres são boas mães, abnegadas, dispostas a qualquer sacrifício em nome da prole.
Assim, ironicamente, vemos muitas mensagens comerciais apelando para os velhos e carcomidos estereótipos do feminino, exatamente no dia que foi estabelecido para, a cada ano, se fazer um balanço da luta das mulheres pela igualdade social.
8 de março é o dia das feministas. O dia escolhido pelas mulheres corajosas e batalhadoras para avaliar a sua condição social. E não um dia para se dar bombons às fêmeas e chama-las de maravilhosas. Não queremos ser maravilhosas: queremos ser iguais, na diferença.
Para quem, homem ou mulher, tenha embarcado no jogo machista que identificou as feministas às mal amadas, feias e aproveitadoras, não custa lembrar que, sem feministas, ainda estaríamos na humilhante condição de cidadãs de segunda classe. Sem elas, não teríamos direito ao voto, ao prazer sexual ou à independência econômica. Porque foram elas, e apenas elas, que conquistaram tudo isso para nós, mulheres modernas. E essas conquistas foram fruto de muita luta, sofrimento e até morte.
Por isso, no Dia Internacional da Mulher, cuidado com os cumprimentos. Não vá cair nesse vexame de homenagear uma mulher com as homenagens devidas à sua bisavó.
O 8 de março é o dia das mulheres corajosas, batalhadoras, independentes. Aquelas mulheres que sonham, ao lado de seus companheiros homens, construir um mundo melhor, mais justo e menos preconceituoso.
*Isabel Vasconcellos é produtora e apresentadora do programa Saúde Feminina, de segunda a sexta, meio dia, ao vivo, na Rede Mulher de TV e autora do livro “A Menstruação E Seus Mitos”, Ed. Mercuryo.