Por: Isabel Fomm de Vasconcellos*
Antonia, o filme que no Brasil chamou-se (muito inadequadamente) A Excêntrica Família de Antonia, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, derrotando, naquele ano, o brasileiro Quatrilho, que estava no páreo.
Antonia, em um momento da sua vida, recebe proposta de casamento de um homem viúvo com 4 filhos. E recusa, porque não quer assumir os quatro filhos dele, não quer ser a “step mother”, a mãe substituta.
Mas esse mesmo homem torna-se seu amante para o resto da vida.
Muitas mulheres, quando assumem um casamento com um homem que já foi casado e tem filhos, fazem absoluta questão de se tornarem “step mothers”, mães de segunda mão.
Muito bem, se a verdadeira mãe dos filhos do seu amor já se foi, está morta, talvez você tenha mesmo que assumir o papel materno para os filhos dele. Mas, se a mãe ainda vive está presente, na minha maneira de ver, isso é apenas mais um papel de palhaça que, equivocadamente, assumimos.
Vi muitas mulheres passarem por esse vexame. Só por serem mulheres elas confundem ser a segunda mulher de um homem com ser a segunda mãe dos filhos dele. Crianças, freqüentemente, ficam confusas com duas mães e tendem a abusar (e muito) da segunda. A verdadeira mãe também fica numa saia justa. Geralmente o pai tem dia certo para ver e ficar com as crianças. E aí vem a outra, querendo também fazer papel de mãe, o que gera, inevitavelmente, conflitos e ciúmes.
Mas nós, mulheres, temos este estigma. Só porque somos fêmeas, achamos que também temos a obrigação de ser mães. Ledo engano.
Se essas crianças já têm uma mãe, certamente não precisam de outra.
Mas confundimos tudo e acreditamos que temos que ser mães dos filhos dos outros.
Os filhos que seu homem teve antes de você, são dele e da mãe deles. Você não tem nada a ver com isso.
Eu, por exemplo, sou casada há 23 anos com um homem que tem dois filhos (já adultos, é claro) de seu primeiro casamento. Nunca tive nenhum problema com os filhos dele. Quando nos casamos, eles eram adolescentes e o menino veio morar uma temporada, dois anos, conosco. Eu ria e brincava com ele: Não sou sua mãe, eu dizia. Não confunda. Ele talvez não gostasse, talvez esperasse que eu tivesse uma atitude maternal para com ele. Sempre me recusei. Ele já tem uma mãe e ela, aliás, é uma ótima mãe. Ninguém precisa de duas.
Assim por todos esses anos, minha relação com os filhos dele foi sem tropeço porque sempre foi uma relação distante e absolutamente formal. Eu não tenho nada a ver com essa outra vida, passada e presente, dele. Aceito-o com seu passado e com sua relação com os filhos que teve de sua primeira mulher. Ele e ela estão unidos pelo laço da prole e sempre estarão. E isso não me causa nenhum problema, pois eu sempre o aceitei como ele é e com a sua história de vida, antes de mim, inclusive.
Mas vejo tantas amigas sofrendo por causa dos filhos que seus maridos tiveram antes de conhecê-las… Elas se metem na educação, na história, no comportamento desses filhos. Que pena! Elas querem ser mães dos filhos deles. Estão absolutamente equivocadas e sofrem à toa.
Por ciúmes e por incompreensão.
Se o seu homem teve filhos com outra mulher, antes de você, isso só diz respeito a ele e à mãe dos filhos dele.
Acredite, você não tem nada a ver com isso.
*Isabel Fomm de Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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