Por: Isabel Fomm de Vasconcellos*
Quando nós, mulheres, ocupávamos uma posição submissa na sociedade (foi ontem) e o nosso único poder era a maternidade, havia para nós uma área de atuação na família e na sociedade. Um área de atuação à qual estamos renunciando e, muitas vezes, talvez na maioria da vezes, sem perceber. Lembra daquela história, abominada pelas feministas: “atrás de um grande homem, existe sempre uma grande mulher”? Pois é. Seria melhor, concluímos, viver ao lado dos homens e não atrás deles. E fomos à luta.
Aqui no Brasil e em outros países da cultura ocidental, embora ainda haja muito porque lutar, as mulheres conseguiram conquistar uma certa igualdade. Direito ao estudo, ao prazer sexual, ao trabalho. E à dupla jornada de trabalho.
Mas, nessa briga cotidiana pela sobrevivência, será que ainda nos lembramos de que, historicamente, somos as grandes conciliadoras? A sapiência feminina e a cultura desse universo nos faziam, antigamente, as grandes diplomatas das relações familiares. Quantos conflitos nossas avós não resolveram ou evitaram? Quantos conselhos foram dados ao pé do fogão ou no quarto de costura? Quantos dramas resolvidos pelas mãos delicadas e pela sabedoria das mulheres? Longe das pressões do mundo do dinheiro, quase sempre sustentadas, as mulheres tinham mais tempo para os assuntos do coração. A observação das crianças, que cresciam ao seu lado; o contato com a religião e com as plantas, a alquimia diária da cozinha; a organização das festas e dos rituais e as preciosas dicas passadas de mãe para filha, tudo isso nos dava um poder maior de observação do comportamento humano, nos dava tempo para a reflexão e até para o desenvolvimento espiritual. Hoje estamos na correria da guerra pelo dinheiro, pela sobrevivência. Estudamos, trabalhamos, competimos e ainda somos responsáveis pelas repetitivas tarefas do cotidiano. Vivemos tão estressadas quanto (ou mais que) qualquer homem. E a sociedade ainda impõe uma terceira jornada: a da beleza física, pela qual nos matamos em dietas e ginásticas. Morremos hoje de enfarte, como morriam nossos companheiros estressados. Será que ainda temos tempo e tranqüilidade para sermos para os nossos homens e crianças aquele farol da alma que foram nossas avós? Somos a maioria na vida espiritual: esotéricas, evangélicas, ou tietes dos padres carismáticos, ainda somos mais voltadas aos mistérios da vida do que os homens. Mas seremos ainda as sábias, as conselheiras, as conciliatórias? Não sei. Compramos prontos os bolos que servimos em nossas mesas, distantes da contemplação do milagre da farinha e do fermento. Mudamos. Mas, dentro de cada uma de nós, executivas ou operárias, vive o espírito das nossas avós. Vive a bruxa, a alquimista, a religiosa, a que fala com Deus. E vive com tanta força que nos faz ser a maioria em todas as igrejas, cultos, seitas esotéricas, etc.
Bom, você deve estar se perguntando, uma feminista roxa como eu, agora o que tem a propor? Sinceramente, nem sei. Talvez a proposta seja mesmo a igualdade. Que os homens sejam menos frios com relação à questão do espírito e que as mulheres sejam mais ativas com relação à sobrevivência. E talvez encontremos o tão sonhado equilíbrio.
*Isabel Fomm de Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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