Por: Sônia Blota Belotti*
Quem (não) precisa de terapia?
Psicoterapia é uma relação de ajuda entre um profissional especializado e um paciente. Mas, após mais de um século do estabelecimento dessa definição, a idéia de cura e tratamento nesse terreno ainda se assemelha ao modelo médico, em que um é o curador sabe-tudo e o outro, o doente anormal…
A terapia, então, é para os loucos? Não, apenas para as pessoas comuns — aquele exército de seres humanos que têm angústias, problemas difíceis de resolver e que, muitas vezes, acham que nunca encontrarão paz nem felicidade. Um batalhão menor também encontra na terapia um meio de mudar o cotidiano de sua vida. E alguns, mais privilegiados, a procuram para ampliar a consciência de si mesmos!
Louca é a nossa sociedade, tão competitiva que considera o pedido de ajuda como uma grande fraqueza (e expor as fraquezas permite ser atacado pelo outro, sempre inimigo, sempre competidor).
Louca é a nossa cultura, que cobra competência permanente, que define o certo e o errado de modo rígido e vende a imagem de que o homem só pode ter certezas: a dúvida é dos incapazes.
Louca é a educação, capaz de convencer as crianças de como devem ser ou o que devem fazer para ser aceitas pelo grupo, pela família, escapando assim às punições. Devagar os impulsos mais genuínos, os desejos de prazer e aceitação vão sendo roubados e, quase sem perceber, entram todos no treinamento para a INFELICIDADE.
E que maluca é a idéia de que se nos encolhermos, não aceitarmos erros e fizermos tudo dentro de padrões, a vida será imutável. Só que como a vida é eterna transformação, a gente é que se imobiliza, quase vira pedra, sem preparo para o novo.
Loucura é a ilusão que compramos do paraíso perfeito, sempre prestes a chegar depois de algum acontecimento: depois da faculdade, do casamento, de ganhar dinheiro. E adiamos para nunca o bem-estar, que simplesmente é estar bem onde se está. Vida boa, acredita-se, é vida sem problemas e, enquanto essa vida não vem, não devo nem posso me sentir feliz!
Maior que qualquer uma dessas “sabotagens” pessoais, sociais ou culturais, no entanto, é a força interna que nos incentiva, permanentemente, à auto-realização. É ela que pode devolver ao indivíduo o sentimento de “sentir-se capaz” e, nesse momento, a terapia é o instrumento de resgate. Como disse Jung, para mostrar à pessoa que ela é humana, como todas as outras, para levá-la a perceber que ser feliz é equilibrar-se prazerosamente, mesmo que oscilando, entre ser o que se é e o que a vida oferece.
A terapia leva à auto-aceitação, um ato de maturidade: saber que há limitações de um lado e pontos fortes de outro, escolher ter um contato mais pleno com a própria realidade, reconhecer características e necessidades reais. Isso se parece com as pessoas que achamos felizes.
O terapeuta é o abençoado parteiro que ajuda o processo e, mais que o próprio paciente, observa e compartilha, maravilhado, esse milagre do renascimento acontecer…
* Sônia Blota Belotti é Psicóloga e Psicoterapeuta – CRP 12682-3
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