Por: Aline Granja*
Nos últimos anos, tem-se estimulado o “faça o que você ama”, “viva do que você ama”, “trabalhe com o que você mais gosta e nunca terá que trabalhar”. Por um lado isso é maravilhoso, pois promove a libertação de antigos padrões de atuação profissional. Por outro, pode ser perigoso, pois quando não se desenvolve a visão do que abarca tornar o sonho em realidade, pode-se levar entrar numa onda de ilusão. A pergunta é: Seu sonho sobrevive à realidade?
Astrologicamente, existem alguns aspectos que podem gerar clareza sobre este momento da busca do sonho de um lado e as tensões de levá-lo à realidade, por outro lado. Vou me ater aqui apenas à quadratura Saturno – Netuno que acontece desde 2015 e continuará até o final de 2016. De forma bem resumida, a quadratura ocorre quando dois planetas formam um ângulo de 90 graus de distância entre si, gerando tensão, desafio.
No caso, Saturno representa a construção, a solidificação, a estrutura, a ordem, a rigidez, a austeridade. Enquanto Netuno representa a imaginação, a dissolução, a fantasia, a abstração. São energias destoantes que entram em embate.
Saturno está atualmente no expansivo e otimista signo de Sagitário, onde não se sente confortável, pois está numa morada de características bem diferentes das suas. Netuno está passando por Peixes, signo que ele mesmo rege, por isso está mais à vontade, mais confortável.
Ou seja, enquanto há o desejo por cultivar o sonho, por viver do que se ama, há também a realidade, o modelo já estabelecido lançando contratempos, dificuldades e entraves nesse sonho. Enquanto alguém dá passos em direção do seu sonho e se coloca em movimento, “faz, faz, faz”, situações externas simplesmente ocorrem, cruzam o caminho e “desfazem, desfazem, desfazem”.
Ok! É natural que tudo o que queremos desenvolver na vida passe por desafios até ser realizado. Mas o que ocorre neste momento é uma acentuação das dificuldades e das aparentes impossibilidades, pois se trata de um período de desmanche das estruturas vigentes, do que já é conhecido em todas as esferas seja política, econômica, profissional, pessoal, etc. Essa transformação acontece tanto a nível mundial quanto individual.
É claro que cada pessoa vai sentir isso de forma diferente. O maior ou menor impacto dependerá do quanto cada um vem se desenvolvendo e lidando com seus próprios desafios. Mas, na minha visão, estamos todos nesse mesmo barco. Apenas alguns já dispõem de, digamos, “técnicas de remo” mais eficientes que foram adquiridas com treino.
O ponto-chave para lidar com essa questão é saber o quanto se está disponível para realizar um sonho. Veja que as dificuldades, os desafios para a materialização estão aí, isso é fato. O que pode variar e determinar o sucesso é justamente a atitude escolhida frente a esse cenário.
E por atitude leia-se o que for preciso para alcançar o sonho: mudança de antigos hábitos, dedicação contínua, renúncia a pequenos prazeres que drenam tempo e energia, investimento de tempo e de dinheiro, aprendizagem de um novo comportamento ou desenvolvimento de habilidades ainda inexploradas (inicialmente desconfortáveis, inclusive).
O que pode parecer uma condenação, uma impossibilidade de realização do sonho pelo “destino ingrato” (a quadratura Saturno-Netuno) revela-se uma oportunidade de lapidação, de desenvolvimento da persistência, da fortaleza que andava sabe-se lá onde, mas que não havia dado as caras até então (é claro, pois essa força ainda não havia sido solicitada).
Percebe como a dinâmica da vida acontece até uma certa medida pelas questões que se apresentam, mas a partir de um determinado ponto o que importa é a postura adotada? Caso contrário, não existiria o livre arbítrio (mas isso já é assunto para um outro artigo).
O importante é entender em qual ponto se está, qual é o cenário apresentado para gerar clareza e tomar decisões mais assertivas. Saturno não nega nada, apenas ocasiona atrasos, pois exige mais estrutura, exige mais solidez, mais construção e tempo de maturação.
Todos os sonhos podem ser reais. Mas apenas se tornam reais os que passam pelo crivo do dia a dia, da colocação de cada tijolo, de cada camada de cimento, de cada passo aparentemente inútil de tão pequeno. E isso não significa uma vida de sofrimento em prol de um pote de ouro no final do arco-íris. William Shakespeare sintetizou isso muito bem numa frase: “Nada é bom ou ruim, mas o pensamento o torna”.
Cada passo, independentemente do tamanho ou do grau de dificuldade, pode ser dado com entusiasmo, coragem e gratidão. É essa qualidade que difere quem realiza de quem apenas sonha: a arte de fazer com boa vontade o que deve ser feito, inclusive as tarefas chatas, desagradáveis e cansativas que o “viver do que se ama” também requer.
Se você, leitor, está pensando em viver o seu sonho, esse artigo não é para desanimá-lo. Pelo contrário, é para te mostrar uma das perspectivas sobre como torná-lo real.
E para você que já está dentro do barco remando para fazer o seu sonho chegar à outra margem do rio, este artigo é para dizer: siga firme, se for preciso ajuste as velas – considere outras opções, lapide sua estratégia, melhore sua atuação, firme parcerias, encontre alternativas – mas não deixe sua embarcação à deriva.
É você quem deve refletir e responder a si mesmo: seu sonho sobrevive à realidade?
*Aline Granja é jornalista, escritora e astróloga. Criadora do blog infinitaorbita.com.br ([email protected])
Crédito das imagens: Pixabay e Pexel