Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Imagine, minha amiga, você nascer homem.
Desde pequenininho seria treinado para não chorar, mesmo que o seu irmão maior o enchesse de pancada. Depois, mais crescidinho, enfiariam na sua cabeça que você, e somente você, teria que ser o melhor em tudo. O primeiro. Nem que para isso tivesse que usar os métodos mais baixos conhecidos pela humanidade.
Um pouco mais tarde você seria estimulado a comparar o tamanho do seu pênis com o dos seus amiguinhos e aí de você se ele fosse menor…Você cresceria com aquela horrível sensação de inferioridade e, sem perceber que as mulheres preferem a qualidade ao comprimento, poderia acabar no divã do psiquiatra ou no consultório do urologista para tentar se livrar da maldita ejaculação precoce.
Na adolescência, sofreria pressões para freqüentar casas de tolerância ou comer a empregada doméstica, ainda que ela fosse um bofe. Teria que mentir que deu duas ou três, quando na verdade mal dera conta de apenas uma. Passaria noites em claro pensando na melhor maneira de ganhar o máximo possível de dinheiro porque, é lógico, você acabaria sendo responsável, num futuro próximo, pelo sustento de uma família.
Debateria-se por exemplo entre a angústia de ter vocação para a física nuclear e o magistério sabendo muito bem que a carreira ideal para os seus objetivos estaria mesmo em ser um ídolo internacional do futebol, ainda que tivesse duas pernas esquerdas.
E na hora de aprender a dirigir, então? Milhões de futuras obrigações passariam pela sua mente: você teria que ser melhor que o Senna, conseguir driblar todos os radares, conduzir a máquina em perfomances sensacionais e, pior que isso, ter dinheiro suficiente para comprar e manter, pagando todos aqueles impostos, o melhor e mais bonito carro do pedaço.
Desgraça mesmo seria se apaixonar por aquele garota sensacional, mas que só dá casando. Aí, então, você teria que se preparar para pagar pela casa, pelos partos dela, pela escola das crianças e todo aquele monte de despesas que dão os filhos. Isso sem falar que você teria que ser o pai herói, infalível, o máximo, bem sucedido, com a carteira cheia de cartões de crédito (ai, os juros e as taxas!) e ainda posar de homem direito, cheio de boas intenções, os melhores pensamentos, para dar o exemplo, sabe como é? Além disso, ia passar o resto da vida tendo que dar escapadelas aos motéis (caríssimos) para poder satisfazer o seu desejo pelas eventuais outras, tudo isso sem que a principal desconfiasse, ainda tendo que arcar com todas as despesas que sempre dão esses casos extraconjugais.
Ah, e tudo isso sem falhar na cama!
Pior ainda se a titular descobrisse seus casos e pedisse o divórcio. Aí, além de enfrentar (e pagar) os temíveis advogados, ficaria com a espada de Dâmocles sobre a cabeça, aquela horrível possibilidade de ir em cana, cana mesmo, desmoralizado e ferrado, caso não conseguisse honrar a maldita pensão que o juiz estipulasse. Crianças, só um fim de semana sim, outro não, e as suas namoradas iam tentar seduzir os seus filhos, fazendo papel de segunda mãe, pra você, um dia, se arriscar a ter unzinho com elas, você sabe, uma questão de garantia e investimento para o futuro.
E, depois de todo esse drama, você chegando exausto do escritório, onde lutara como um leão para que ninguém pudesse sacanear aquela promoção pela qual você tanto vem brigando, encontraria uma mulher, a sua, que passara o dia indisposta, quebrara uma unha no shopping, fora ao cabeleireiro mas ainda estava em depressão da TPM, querendo discutir a relação.
Discutir a relação??? Ora, minha filha, tenha paciência. Tenha paciência!
Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do programa Saúde Feminina, segunda a sexta, ao vivo, 14h00, na Rede Mulher de TV, e autora do livro “A Menstruação e Seus Mitos”, Ed. Mercuryo.