Por: Carla Nechar de Queiroz*
Como disse anteriormente, agora iremos falar um pouco das terapias realizadas com crianças e adultos disfluentes. Por ainda não ser completamente compreendida em sua origem, existem vários métodos terapêuticos para tratar da disfluência e muitos deles resolvem a dificuldade de fala que o indivíduo apresenta. Isto, por um lado, é positivo, pois o paciente fica feliz. Por outro, é negativo: demonstra que diferentes abordagens para um mesmo problema surtem efeito, não ajudando no entendimento da disfluência.
A abordagem terapêutica que eu utilizo com essas crianças chamadas de “gagas” é a terapia fonoaudiológica realizada através de bricadeiras. Durante as terapias, muitas vezes o fonoaudiólogo “gagueja” e chama a atenção da criança para o fato, para que possa descobrir o quão sensível a criança está em relação à fala e também para lhe demonstrar que repetir, errar e recomeçar é completamente normal. Esta abordagem apresenta bons resultados em um tempo relativamente curto. É claro que se o grau de disfluência da criança for mais severo, ou seja, se ela, vamos supor, aos 4 anos apresentar movimentos associados de ombros e pés enquanto fala, esta abordagem será menos indicada e minha conduta, em um caso assim, seria encaminhar a criança para psicoterapia.
A terapia fonoaudiológica com indivíduos adultos, porém, tem uma abordagem completamente diferente e requer a participação ativa por parte do indivíduo. Ele precisa querer melhorar e se expor. Isto por que é bastante comum que os indivíduos adultos desenvolvam estratégias para evitar a disfluência. Muitas vezes evitam situações de fala: não vão a festas, têm poucos amigos, não recebem promoções pois não se importam em fazer apresentações, etc. Eles costumam desenvolver habilidades mentais para “substituir” o som ou palavra que lhe pareça difícil. Eles parecem pressentir que esta ou aquela palavra vai ser difícil de ser falada, então procuram outra e falam no lugar, ocupando a eventual pausa na fala com um “ehh…uhhh”. Isto pode tornar sua fala monótona, lentificada e “sem graça” (por favor, não digam que aquele colega chato do escritório é gago).
O adulto disfluente que está disposto a melhorar deve, primeiro, mostrar sua disfluência para o fonoaudiólogo. Ele deve parar de usar essas estratégias para que o profissional possa observar o comportamento apresentado: Ele repete ou prolonga os sons? O que é repetido: som isolado, sílaba, palavra? Há algum padrão: é sempre o primeiro som da palavra, por exemplo? Há palavras que realmente sejam mais “difíceis” para este indivíduo falar? Há um fonema (som da fala) que ele repita com mais freqüência?
Uma vez que essas informações sejam obtidas, o fonoaudiólogo deve mostrar ao indivíduo como os sons “repetidos” são produzidos e treiná-los em diferentes situações: isolados, em sílabas no início, meio e final de palavras, frases simples, leitura de textos, leitura de textos escritos pelo próprio indivíduo, etc… Deve, também, chamar a atenção do paciente para o fato de que não é em todas as situações que a repetição ocorre, por exemplo, só quando ele está em situações de nervoso. Neste caso, é importante descobrir o que deixa o indivíduo nervoso e, para se conhecer melhor, muitas vezes uma psicoterapia ou uma análise é indicada. O trabalho fonoaudiológico com o paciente adulto é mais demorado e é bastante comum que o paciente abandone a terapia. Ele tem que lidar com sua baixa auto-estima, se fazer questionamentos e isto nem sempre é fácil.
É por isso que é sempre mais fácil prevenir: tratando a gagueira fisiológica como apenas mais uma etapa no desenvolvimento do seu filho, poderemos impedir que ele se torne um adulto disfluente. Neste caso, a informação referente à disfluência é muito importante. Por isso, passe-a para frente: sempre pode haver alguém precisando saber como agir.
* Carla Nechar de Queiroz é Fonoaudióloga chefe do Serviço de Fonoaudiologia da SPO
Formada pela EPM (atual UNIFESP) – Mestrado na Illionois State University – CRFa. 5263