Por: Isabel Fomm de Vasconcellos*
Talvez porque tenham tido, ao longo da História da Humanidade, que usar de muitos subterfúgios para sobreviver num mundo que as desvalorizava, as mulheres até hoje conservam algumas características que vem do tempo em que lutavam com unhas e dentes para conseguir um bom homem, já que um bom homem era a única maneira de ter algum destaque na sociedade.
O veneno (literal ou figurado), a desvalorização constante de qualquer outra mulher, a incrível desunião, a ausência de cumplicidade, a fragilidade da amizade, tudo isso ainda existe no universo feminino e é fruto da discriminação. Sim, porque a discriminação social gera a desunião e a competição desleal. Isso acontece com todos os segmentos discriminados de qualquer grupo social.
Mas de todas essas características indesejáveis que ainda sobrevivem em muitíssimas mulheres, a mais terrível para a sua própria felicidade talvez seja a milenar mania de usar subterfúgios e joguinhos adolescentes para “conquistar” um homem ou “prendê-lo”.
Isso, reafirmo, vem do tempo em que, para ser alguém, a mulher tinha que ter um homem do lado. Aí, valia tudo.
Hoje em dia usar joguinhos no relacionamento homem-mulher é um grande equívoco e certamente a maneira mais eficaz de assegurar o fracasso – a curto ou a longo prazo – do relacionamento.
Nenhuma relação vai se segurar se não for baseada na confiança, na cumplicidade e, principalmente, na sinceridade. Ah, e, sem dúvida, em uma grande afinidade sexual.
A mania feminina de confundir desejo com paixão, de justificar o sexo com o amor, a ausência de desejo ou de prazer, todas essas péssimas interpretações do sexo, são obstáculos femininos para uma relação feliz. São também de origem, na sua absoluta maioria, sociocultural e devem ser tratados por especialistas, de preferência com formação em Medicina e Sexologia.
Dessa disfunção sexual crônica vem o joguinho número um: fingir na cama.
Fingir orgasmos é fácil para as mulheres e impossível para os homens. Mas por quanto tempo uma mulher vai conseguir fingir? Um dia ela cansa e começa a evitar o sexo, vem a famosa dor de cabeça, a eterna indisposição.
Não adianta se iludir: para os homens, o sexo é absolutamente fundamental na relação. Então as fingidoras acabarão inevitavelmente traídas ou trocadas.
O joguinho número 2 é aquele de não fazer sexo logo no primeiro encontro, nem no segundo, se fazer de difícil e de rogada, julgando assim que ele vai enlouquecer de tesão e, quando finalmente a boboca for pra cama com ele, ficar tão agradecido e feliz que tenderá a perpetuar o relacionamento. Na maioria das vezes, o homem se enche da história dessa “dificuldade” para uma coisa tão simples e natural como ir pra cama. E, acredite minha amiga. quando ele se enche, você dança.
Existem muitos outros joguinhos. Existem até livros de (suposta) autoajuda que “ensinam” essas “técnicas”. Não leia. E se leu, não use.
A manutenção de um relacionamento feliz exige amor, muito sexo bem feito, compreensão, diálogo franco, enfim: alma limpa!
Se você quer um amor limpo, nunca jogue sujo.
Se você tem dificuldades sexuais, os serviços de sexologia dos hospitais estão aí para resolvê-las para você.
Afinal, depois que as nossas avós lutadoras conquistaram um novo lugar para nós na sociedade, os joguinhos servem apenas para por tudo a perder.
* Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e jornalista especializada em saúde. [email protected]
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