Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Nós mulheres fomos consideradas, durante milênios, como zeros à esquerda. Não tínhamos direito à educação (até o começo do século passado, a maioria absoluta das mulheres não aprendia nem mesmo a ler e a escrever). Pelo código civil brasileiro, até os anos 1960, não apenas éramos consideradas incapazes de gerir nosso próprio dinheiro ou dispor de nossas propriedades ( que passavam para o homem com quem nos casássemos) como fomos equiparadas, na letra da lei, aos selvagens e às crianças.
A Suíça (preste atenção: estou falando da Suíça e não de Angola!) só permitiu que suas mulheres votassem em 1971. 1971!
Às mulheres que ousavam se revoltar contra a sua condição de tuteladas, inferiores, sub cidadãs, eram reservados os horrores do desprezo social, da cadeia, da fogueira, da dor e da morte.
Mas, apesar de tudo, nós nos revoltamos.Nossa heróicas bisavós, avós e mães enfrentaram o desprezo e a discriminação social e, através de três longos séculos de lutas organizadas ou individuais, acabaram conquistando para nós todos os direitos que temos hoje: o do prazer sexual, o do voto, o da independência econômica, o de sermos cidadãs e donas do nosso próprio nariz.
Mas hoje a sociedade descobriu uma nova forma de nos escravizar.
O nosso corpo.
Os reis da mídia nos querem deusas da forma. E, nós, idiotamente, nos submetemos à ditadura da forma. Nos desesperamos porque temos (e todas, mesmo as deusas da mídia, temos) uma celutezinha nos culotes ou porque a nossa bunda despencou um pouco com o passar do tempo ou porque estamos 1,5kg acima do peso que consideramos ideal. Nos matamos de fazer ginástica, apesar de termos trabalhado 8 horas no escritório e ainda nos esperar em casa a bagunça dos filhos e do marido. Tomamos toda e qualquer droga (todas caríssimas e comprovadamente ineficazes) na esperança de emagrecer um pouquinho ou de engrossar os músculos. Fazemos trezentos tratamentos de beleza, gastamos rios de dinheiro com cremes ditos “milagrosos”. Morremos nas mesas de cirurgia plástica. Esticamos a cara. Aspiramos as gorduras. E, muitas vezes, já entupidas de drogas, a anestesia não dá certo. E morremos. Ou pior: ficamos hemiplégicas ou tetraplégicas. Tudo em busca de um corpo que não é nosso, não é o tipo físico (violão) da brasileira e que, ironicamente, é o que mais atraí os nossos homens. Mas não. Queremos ser magras, esqueléticas, a qualquer preço. Nos tornamos bulímicas ou anoréticas e vamos parar no psiquiatra por causa da depressão de tanto stress e tanta porcaria de droga (todo remédio é droga) que tomamos, nesta insensata busca do corpo “ideal”.
Ora, minha amiga, um pouco de bom senso!
É claro que uma alimentação saudável, um pouco de atividade física, são fundamentais para manter a saúde e garantir uma velhice tranqüila.
Mas isso não significa ser escrava da forma, como tantas de nós o somos.
Essa ridícula obcessão pelo tal do corpo perfeito é apenas mais uma maneira de nos submetermos à ditadura que alguns inventaram para as mulheres.
Pare e pense. Descubra a beleza que existe em você, e apenas em você, com os seus defeitos e qualidades físicas. Valorize as qualidades. E, principalmente, seja você mesma.
Nós fomos escravas durante milênios. Vamos continuar a ser? Escravas da moda, escravas de uma forma que não é a nossa? Descubra a sua beleza, aquela que é só sua, e mesmo que você tenha celulite, que exiba uma barriguinha, ou que o cabelo não seja assim tão liso, quando você tomar posse de seu próprio corpo e de sua própria beleza, vai transmitir aos outros a sua personalidade, a sua forma, o seu jeito de ser. E, a cada um de nós, seres humanos, foi dada uma beleza única, irrepetível.
Liberte-se! E você vai ver o resultado. Você se olhará no espelho, com seu próprio estilo de vestir e de ser, e se sentirá ótima. Porque estará em paz consigo mesma. Não seja mais uma escrava da moda. A vida é muito mais do que a moda.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do programa Saúde Feminina (Rede Mulher de TV e Rede Família, de segunda a sexta, ao vivo, às 14h00) e autora do livro “A Menstruação E Seus Mitos”, Ed. Mercuryo)