Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Victoria Woodhull foi a primeira mulher a concorrer a presidência dos Estados Unidos, em 1872.
Segundo alguns de seus conterrâneos, Victoria estava 100 anos a frente do seu tempo. Lutava pela igualdade de direitos e oportunidades na sociedade para mulheres e negros, pela jornada de apenas 8 horas de trabalho/dia e, é claro, pelo voto feminino.
É interessante notar que as mulheres americanas só conquistaram o voto em 26 de agosto de 1920, 28 anos depois de ter a sua primeira candidata a presidência, o que mostra que Victoria estava disputando o voto masculino.
Bem diferente do Brasil, que conquistou o voto feminino em 1934 e até hoje, 70 anos depois, não teve nenhuma candidata à presidência, exceto, é claro, a tentativa de Roseana Sarney.
Em 1872, o movimento sufragista nos EUA era uma realidade. Começara quase 100 anos antes, na Inglaterra, com Mary Wollstonecraft, que escreveu o tratado dos Direitos do Homem, onde reivindicava os mesmo direitos para ambos os sexos. Mary Wollstonecreft era a mãe de Mary Shelley, autora de O Frankestein, e morreu 11 dias após dar a luz à essa sua filha, aos 38 anos de idade. Mas passou para história por sua lucidez política.
O voto feminino é coisa realmente recente. Na Índia foi conquistado em 1935. Em 1946, na Argentina, na Bélgica, na Itália, no México, na Romênia. Na Suíça, apenas em 1971.
Mesmo as francesas, que têm uma séria tradição de luta política, só o conquistaram em 1944.
Estamos próximas a novas eleições no Brasil e o voto das mulheres, mostram as pesquisas, pode decidir o pleito.
Infelizmente, no Brasil, ainda se ouve mulheres dizendo que preferiam aproveitar o feriado da eleição para ir à praia. Ainda temos mulheres que votam no candidato do marido, do patrão.
E pensar que as sufragistas foram perseguidas e até mesmo mortas, que sofreram o diabo no mundo inteiro e no Brasil também, para que tivéssemos o direito de votar.
Apesar de termos uma lei eleitoral que reserva 30% das vagas, nos partidos, para canditados, às mulheres, nem todos os partidos conseguem preencher essa cota porque não há mulheres suficientes, decididas a encarar mandatos políticos. Nas cidades em que há mulheres candidatas, será que nós mulheres vamos votar nelas? É claro que não se deve votar em alguém apenas porque esse alguém é mulher. Mas o que eu temo é que as mulheres, deliberadamente, não votem em mulheres assim como, por muito tempo, preferiram médicos e dentistas homens, advogados homens… Por que será, não, minha amiga? Ouso me arriscar numa resposta: acho que somos, nós mulheres, tão desvalorizadas histórica e socialmente que, por nos sentirmos, lá no íntimo, inferiores a eles, não podemos mesmo confiar em outra mulher, afinal ela também será tão “inferior” como nós mesmas.
Melhor olhar para dentro de si mesma e perceber que essa nossa “inferioridade” é apenas cultural, é apenas resultado de alguns milênios de dominação do nosso sexo. Tanto homens quanto mulheres são honestos ou desonestos, competentes ou incompetentes, capazes ou incapazes…e isso nada tem a ver com seu sexo!
Então, o mínimo que podemos fazer, inclusive para honrar a memória de nossas lutadoras avós sufragistas, deve ser votar de acordo com a nossa consciência. Parar de dizer, inclusive, “eu não me interesso por política”, como se a política não fosse diretamente responsável pelo que acontece em sua vida. Analise os candidatos e candidatas. Informe-se. Assista ao (argh!) horário político na TV e use, com consciência e com firmeza, esse direito, o de votar, que tão duramente foi conquistado para nós, mulheres, com o sofrimento e a luta de nossas antepassadas.
Ou Victoria Woodhull e outras heroínas estarão se contorcendo em seus túmulos.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (Rede Mulher de TV e Rede Família, de segunda a sexta, ao vivo, 14h00) e autora do livro “A Menstruação E Seus Mitos”, Ed. Mercuryo.