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Comportamento
7 de julho de 2006

A Sonhada Igualdade

admin discriminação sexual, igualdade social, somos iguais Comments are off

Por: Isabel Fomm de Vasconcellos*

Já escrevi tanto sobre a condição social das mulheres brasileiras e de todo o mundo, já fiz tantos programas de TV sobre tudo isso, que, às vezes, o assunto me cansa.

Lembro-me de, em 1975, em plena ditadura, ter conhecido um grupo de mulheres organizadas que estavam trabalhando na semi-clandestinidade. Uma delas, que finalizava um livro sobre a saúde da mulher, dirigido às mais simples, disse-me em tom de desabafo:

– Sabe, Isabel, o meu sonho feminista não era exatamente estar aqui ensinando as operárias a limparem a bunda.

Quase trinta anos depois, sinto-me um pouco assim. Decepcionada.

Quando encontrei Ana Montenegro, uma feminista histórica, na Bahia, ela me perguntou:

– Mas nós não estamos lutando por todas as mulheres, não é, Isabel?

Ainda temos muitas mulheres que não sabem limpar a bunda e ainda temos muitas mulheres pelas quais não vale a pena lutar.

Ouvi ainda, de uma secretária de multinacional, essa pérola:

– Quem foi que disse a você, Isabel, que as mulheres querem que você lute por elas?

Pois é. A gente se mata, passa por maldita, mal amada, eteceteras, e ainda tem que ouvir coisas assim.

Na verdade, todas as mulheres que lutaram, ao longo da história, pela igualdade social, pelo fim da discriminação, pela liberdade sexual, pelos direitos de cidadania, estavam, em primeiro lugar, lutando por si mesmas. Eu, pobre de mim, não sou nada, nessa luta, perto de tantos exemplos históricos.

Mas também lutei e luto por mim. Porque sei o meu valor como ser humano, porque gosto de mim, porque não admito que a sociedade me veja como menor do que qualquer um. Somos todos iguais, na diferença. Todos, como dizia o poeta, acabaremos “com terra por cima e na horizontal”.

Sempre me achei capaz de me sustentar sem precisar de um homem para pagar-me as contas. E, graças a Deus e às feministas, pude passar a vida sendo independente e dona do meu nariz.

E hoje sinto, sinceramente, muita pena das meninas que se vendem, que fazem do sexo uma moeda e afastam de seu destino a oportunidade de se realizarem plenamente por conta própria e por mérito próprio. Sinto muita pena de mulheres que ainda acreditam que seus homens são melhores do que elas próprias. E mais pena ainda daquelas que dizem com horror: “Não, eu não sou feminista”.

Anos e anos lendo, escrevendo, entrevistando, aprendendo sobre essa cruel discriminação sexual, me fizeram endurecer, me fizeram ver tão claramente cada manifestação do preconceito contra as mulheres (que muitas delas, é claro, não só endossam como reforçam) que eu perdi um pouco a paciência.

É, no entanto, no eco das minhas palavras, no retorno que recebo das minhas crônicas, que eu encontro a paciência perdida. Porque o que eu digo, o que eu acredito, encontra sim o coração e alma de muitas outras mulheres que pensam como eu, mas muitas vezes nem sabem disso. Quando percebo que minhas palavras foram úteis para outras mulheres, então passo a acreditar, de novo, que vale a pena lutar.

E assim vamos. Aviltadas, desprezadas, discriminadas no amor e no trabalho, com tripla jornada de trabalho, confundindo amor e sexo, não sabendo bem qual é o nosso novo papel no mundo, mas vamos. Em frente.

O psiquiatra Paulo Gaudêncio disse outro dia no meu programa que a gente quer muito que tudo mude, mas não é assim que acontece. Tudo vai mudando. Lenta e gradualmente.

Hoje eu sei que vou morrer sem ver realizados os meus sonhos da juventude, sonhos de igualdade social para todos os discriminados, negros, pobres, índios, mulheres, idosos, deficientes…a turma dos “diferentes”. Hoje eu sei que as guerras estúpidas vão continuar, as intolerâncias brutais de quem não consegue se perceber interdependente, como somos, todos, na vida. Sei também que cada ser humano vive num tempo diferente, embora aparentemente estejamos todos na mesma época. E, ironicamente, escolhi viver no tempo da paz e, por isso, é preciso lutar.

Lutar pela igualdade de oportunidades, para homens, mulheres, negros, pobres ou quem quer que seja, significa guerrear pela paz. Não é pra quem veio a este mundo a passeio. Não é mesmo.

 

*Isabel Fomm de Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.

 

www.isabelvasconcellos.com.br

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Flavia Hesse é inspiradora digital, terapeuta floral, publisher e advogada

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