Por: Isabel Fomm de Vasconcellos*
Impressionante a declaração de Silvio de Abreu, autor da novela das oito, à revista Veja. Ele disse que, nas pesquisas de opinião sobre o andamento da novela, realizadas pela emissora, grande parte das mulheres de hoje torcem pelos “bandidos” e não pelos “mocinhos” da trama. Isto porque essas mulheres acreditam que, na vida, o importante seja atingir os seus objetivos, pouco importando os métodos e os caminhos que sejam usados para chegar lá.
Ou seja, estamos no terreno da pura amoralidade.
Assim sendo, já não espantaria que o Lula, maestro sem dúvida do mensalão, lidere as pesquisas para a próxima eleição. Afinal, se vale tudo para chegar ao poder e se vale tudo para manter o poder, quem vai se importar com caixa dois ou compra de opiniões?
O engraçado (e triste) da história é que as mulheres sempre puderam se orgulhar de sua honestidade, de sua conduta proba e reta. Eu mesma já disse várias vezes que, pelo menos, não havia mulheres metidas nos recentes escândalos políticos. E fiquei realmente surpresa ao ver um bando de mulheres do sul protagonizarem aquele ridículo ataque ao centro de pesquisas da Aracruz Celulose, um ato de vandalismo, de terrorismo, de absoluta ignorância, um ato que não combina com a tradicional conduta feminina.
Será que vamos perder também isso? Será que vamos perder também essa tradicional conduta correta?
Quando entramos no mundo masculino do trabalho e dos negócios, logo fomos reconhecidas como mais honestas e mais sérias do que a maioria dos homens.
Embora muitas de nós ainda estejamos confundindo a nossa participação no mundo produtivo, construído pelos homens, com a adoção dos valores do pensamento masculino, não precisamos também, agora, copiar as más condutas masculinas!
Que espécie de cidadãos e cidadãs serão, amanhã, os filhos criados por essas mulheres que justificam a conduta de vilões de novela, dizendo que eles estão apenas lutando para atingir seus objetivos de vida?
A mídia está cheia de exemplos pouco edificantes de conduta feminina. Mulheres que engravidam de homens famosos apenas para se tornarem também famosas. Mulheres que vendem seu corpo e seu estado civil por um dinheirinho supostamente fácil. Mas essas mulheres nunca representaram a mulher brasileira, a maioria, que enfrenta a luta da vida, que trabalha, muitas vezes sustenta seus lares, e ainda exerce, ao mesmo tempo, suas funções de mãe e de dona de casa. Mulheres que se sacrificam no cotidiano para dar aos seus filhos melhores condições de vida do que elas próprias tiveram, melhores oportunidades, mais saúde e mais educação.
Duvido que mulheres assim votassem em vilões de novela.
Minha mãe não votaria. Minha irmã também não. Minhas amigas idem. Então, quem são essas mulheres? Onde estão? Em que estão se transformando? Quem são as mães que participaram do ataque terrorista à Aracruz ? Quem são as brasileiras que desistiram de lutar por uma vida digna e aceitam que, na briga pelo sucesso, vale tudo?
Mais do que ninguém, as mulheres sempre souberam que a vida é uma teia de interdependências. Mais do ninguém repetiram para seus filhos as velhas máximas da sabedoria popular: “não faça aos outros o que não quer que façam a você!”; “você colhe o que planta”; “quem com ferro fere, com ferro será ferido”; “a união faz a força” e por aí afora.
Mas talvez, agora, estejam substituindo as velhas frases por outras como: “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”; “achado não é roubado”; “o importante é levar vantagem”…
Desse jeito, vamos criar monstrinhos sociais. Bandidinhos. Marginaizinhos.
Desse jeito, certamente mereceremos um congresso de ladrões e uma vida de salve-se quem puder.
Os valores que a sociedade levou milênios para identificar e codificar, para que se pudesse ir construindo um mundo mais justo, sempre foram apregoados e praticados pelas mulheres. Foram elas que puxaram as orelhas de seus filhos e de seus companheiros quando perceberam que eles estavam enveredando pelos caminhos do egoísmo, da arrogância, da falta de solidariedade. Foram elas que gastaram os joelhos nas igrejas e nos templos orando por um mundo melhor. Foram elas que saíram às ruas marchando contra políticos corruptos e batendo panelas. Foram elas que abriram os braços e aninharam em seus colos homens e crianças que viviam momentos de dúvida e incerteza. Foram elas que incentivaram seus filhos e companheiros a ter atitudes mais nobres e mais dignas. Foram elas que lutaram, na sociedade, para ter reconhecidos seus direitos de cidadãs, direito ao voto, ao estudo, ao prazer e ao trabalho. A História está cheia de exemplos de mulheres que, mesmo discriminadas, mesmo consideradas cidadãs de segunda classe, fizeram a diferença no mundo.
Então quem são essas mulheres que votam nos bandidos? Quem são essas mulheres que acreditam que qualquer coisa é válida na obtenção de objetivos?
Juro que não sou eu. Será por acaso você?
*Isabel Fomm de Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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