Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
A Revista Marie Claire publicou, em seu último número, o resultado de uma pesquisa realizada entre 2330 leitoras da revista, sobre sexo.
Um das questões teve um resultado surpreendente: 49% das entrevistadas disseram que fazem sexo mesmo sem estar apaixonadas. Há porém que se considerar que as leitoras de Marie Claire entrevistadas são da região sudeste, a maioria pertencente a classe AB e de alto grau de escolaridade.
O resultado dessa questão seria bem diferente, creio eu, se a pesquisa fosse realizada com outros tipos de brasileiras.
Atrelar o sexo ao amor é um erro histórico das mulheres. Homens jamais precisaram da desculpa do amor para admitir e concretizar uma relação sexual. Mas as mulheres frequentemente precisam.
Independentemente das convicções morais ou religiosas, que, é claro, devem ser respeitadas, as conseqüências dessa idéia feminina de que o sexo só é válido quando existe também o amor, costumam ser desastrosas.
À primeira vista poder-se-ia julgar que as mulheres que não estão amando não fazem sexo e pronto. Mas não é bem isso que acontece.
Apesar de carregarmos ainda em nossos inconscientes milênios de repressão sexual, o instinto fala bem alto e o desejo existe. Porém, como fomos condicionadas a fazer sexo apenas com o homem amado, o que ocorre é que não conseguimos distinguir a simples atração sexual do estar apaixonada. O que se vê, então, é a mulher julgando amar a todo e qualquer homem que exerça sobre ela uma forte atração sexual. Basta se sentir atraída e a confusão se estabelece. Mulheres, dificilmente, conseguem admitir que um homem apenas as atrai, elas já vão logo se dizendo “apaixonadas” quando, de fato, estão apenas atraídas.
Para os homens essa confusão jamais existe. Eles sabem bem o que querem de uma mulher. Se é apenas sexo, para eles, é apenas sexo e pronto. Por isso, depois de uma noite de amor, eles não têm aquela preemente necessidade de telefonar no dia seguinte.
Muito sofrimento feminino poderia ser evitado se nós, mulheres, conseguíssemos separar as duas coisas. Admitir que fulano ou beltrano simplesmente nos atrai e que queremos fazer sexo, só isso. Mas não. Vamos logo envolvendo o coitado do objeto da nossa atração em nossas fantasias românticas. Quase sempre quebramos a cara.
É claro que um caso que começa com atração sexual pode evoluir para algo mais profundo, pode vir o carinho, o afeto e até o amor. Mas não é isso que acontece na maioria das vezes.
Como escapar dessa armadilha cultural? Como perceber que aquele homem que nos atrai apenas nos atrai? Um bom artifício é imaginar uma vida cotidiana com ele. Será que gostaríamos de compartilhar o nosso dia a dia com esse homem? Será que ele é o homem certo para dividir a difícil tarefa da convivência diária? Nossas idéias batem? Nós realmente apreciamos a maneira dele ser, de se comportar, de pensar? Seria ele um bom pai para o nosso filho? Gostaríamos de acordar, todos os dias, ao lado dele?
Caso as suas respostas a estas perguntas sejam negativas, talvez então você esteja apenas atraída sexualmente por ele e não realmente apaixonada.
Mas, mesmo assim, para isso funcionar, é preciso que admitamos que estamos sim inclinadas a nos apaixonar pelo primeiro babaca que mostrar interesse por nós, que ainda trazemos, dentro das nossas almas, os mitos da cinderela e do príncipe encantado; que somos preconceituosamente românticas, porque fomos reprimidas, porque fomos educadas pela sociedade para acreditar que não somos grande coisa se não tivermos um homem ao nosso lado. E isso é apenas mentira.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (Rede Mulher de TV e Rede Família, ao vivo, de segunda a sexta, 14h00) e autora do livro “A Menstruação E Seus Mitos”, Ed. Mercuryo.