Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Nível cultural é esquisito.
Independe do grau de escolaridade ou da classe sócio econômica.
O sujeito pode ser endinheirado, pode ser até diplomado e continuar sendo uma anta.
No Brasil então, nem se fale.
Um país onde os níveis de ensino são baixíssimos tem muito doutor inculto e muito diplomado semi-analfabeto.
Mas você pode encontrar pessoas muito pobres de ótima formação cultural. Algo que vem de berço, da tradição familiar e até do próprio interesse pessoal.
Uma coisa porém é certa: quanto mais baixo é o nível cultural da pessoa, mais machista ela é. E não estou falando de homens, estou falando de homens e mulheres. Porque as mulheres podem ser ainda mais machistas que seus companheiros e, nessa mentalidade, educam os filhos. Filhos homens e filhas mulheres.
Também é fácil ver isso nos programas de TV. Programas apelativos, de baixaria mesmo, reforçam todos os preconceitos contra as mulheres, ainda que alguns, até apresentados por mulheres, tentem mascarar suas próprias tragédias.
A visão estreita das questões sociais é cheia de lugares comuns. A não valorização da história, o próprio desconhecimento desta e da evolução social da humanidade, faz a estreiteza mental do ser humano.
Aquele que conhece o longo caminho percorrido pela humanidade para chegar ao conhecimento e a tecnologia que temos hoje, sabe que está em dívida com seus antepassados, homens ou mulheres.
Aquele para quem a música é muito mais do que a simples primariedade do bater do tambor, sabe que existe uma linguagem universal.
Aquele que, com sincero interesse, leu as grandes obras da literatura mundial, sabe que não existe uma única verdade, um único enfoque, uma única visão.
Em resumo, quanto mais se sabe mais se sabe que nada se sabe.
A humildade dos sábios está justamente aí, na eterna busca pelo conhecimento.
Isso tudo só se obtém através da cultura. (Favor aqui não confundir, é claro, cultura com simples erudição). E esse imenso universo que se descortina para os cultos é cada vez mais livre de preconceitos, é cada vez mais livre de superstições (que andam, no Brasil de hoje, muito na moda, ainda que travestidas sob o rótulo de esoterismo).
É claro que os preconceitos contra a mulher já proliferaram no universo dos cultos. No entanto, sempre restritos à atribuição dos papéis sociais e não à crença de uma inferioridade intrínseca, como existe no mundo dos incultos.
É lamentável que o nosso país viva essa eterna deseducação, essa contínua depredação (física e intelectual) dos nossos estabelecimentos públicos de ensino.
Se a classe média quiser ter filhos educados precisa pagar as altíssimas mensalidades das escolas particulares. Mesmo assim corre o risco de ter filhos somente escolarizados e ainda sem cultura pois não se vive, no país, um ambiente que estimule a vida cultural.
Museus, teatros, bibliotecas são ambientes para uma restrita minoria.
O debate, nas universidades, foi substituído pela competição.
As conversas sociais são fúteis e superficiais e normalmente se referem a status e poder e raramente a sentido, razão e ação.
A própria TV, atualmente a Rainha da Baixaria Nacional, estimula apenas o que há de mais sórdido e mesquinho na natureza humana. E esta também se justifica dizendo que é exatamente isso que dá Ibope, que é exatamente isso que nós, o público, queremos ver. Será?
Sem cultura, sem educação, continuaremos a ver a social desvalorização do sexo feminino, ainda que as mulheres tenham conquistado posições inéditas na sociedade.
É absolutamente lamentável. Mas certamente não irreversível.
Só se reverterá, porém, se descruzarmos os nossos braços e se admitirmos a nossa interdependência e a importância da nossa herança cultural que é, sim, um patrimônio da humanidade.
Sem consciência, seremos eternamente um povo do quarto mundo. Um povo inculto e machista.
*Isabel Fomm Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
www.isabelvasconcellos.com.br