Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Assim como a atitude de algumas mulheres valoriza todas as mulheres do mundo, a atitude de outras envergonha a todas.
Mulheres como as históricas feministas que conquistaram para nós o direito ao voto, à cidadania, ao controle da natalidade, ao prazer sexual, ao estudo e ao trabalho, estarão sempre presentes na História da Humanidade como benfeitoras e seres que estavam um passo adiante de seu próprio tempo.
Outras, como a Irmã Dulce ou como a Lady Di, serão lembradas por seus trabalhos em prol da melhoria das condições de vida de tantos oprimidos, vítimas de violência.
Mulheres como Carmen Prudente, em sua luta contra o câncer; como Viviane Senna, em seu cotidiano na fundação que leva o nome de seu irmão; como Marta Suplicy que, no Congresso Nacional, onde era notória minoria (ainda são poucas as mulheres no congresso…) ousou apresentar projetos polêmicos e de grande avanço social.
Poderia eu ficar aqui citando exemplos e exemplos de mulheres que, ao longo da História, apenas honraram o seu sexo, apesar da sua condição de inferioridade social.
Na TV, passei cinco anos, fazendo todos os dias, efemérides femininas. E até hoje coloco, para cada dia do ano, no mínimo, a história de uma mulher que fez diferença no curso da humanidade e que tem relação com a data. São estas mulheres que, repito, a despeito de sua condição de inferioridade social, dignificam o nosso sexo.
Mas, para tudo há um mas, há outras mulheres que nos fazem ter vergonha do nosso sexo.
A nossa mídia mostrou estes dias, para a nossa vergonha, um bando de 2 mil ignorantes que se intitulam “Movimento de Mulheres Camponesas” gabando-se de ter destruído anos e anos de trabalho de pesquisadores sérios na Aracruz Celulose, uma empresa de ponta que, em 2005, exportou mais de 800 milhões de dólares. Uma empresa da qual, esse bando de mulheres ignorantes, deveria se orgulhar.
O ataque das vândalas ao laboratório de pesquisa da empresa, acabou com mais de uma década de trabalho de gente séria e dedicada.
E ainda teve quem as defendesse.
O ataque de ignorância aconteceu “em comemoração” ao Dia Internacional da Mulher.
No mesmo dia, no Congresso Nacional, eram homenageadas algumas mulheres que tiveram ou têm um importante papel na vida política e em prol da defesa dos direitos femininos.
Entre estas, estava Elisabete Teixeira, uma mulher simples, que foi fundadora da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba, em 1958.
Elisabete teve o marido assassinado, em 1962, a mando de usineiros de seu estado, e acabou por se tornar um símbolo de resistência dos trabalhadores rurais. Durante a Ditadura Militar, ela sumiu. Mas reapareceu, nos anos 80, no filme “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho.
O que será que Elisabete pensaria desse tal “Movimento de Mulheres Camponesas”, esse braço espúrio dos Sem Terra, que, em vez de lutar por seus direitos, prefere destruir o trabalho alheio, apenas para aparecer na mídia?
O que será que Elisabete pensaria dessas suas “irmãs” que preferem adotar atitudes que lembram as queimas de livros na Idade Média, ou por regimes totalitários, que em nome da sua “verdade” pretendem destruir o saber, a pesquisa, o conhecimento?
Essas mulheres são, do alto da sua suprema ignorância, arrogantes, burras, terroristas da pior espécie. E envergonham o nosso sexo. Envergonham as verdadeiras revolucionárias sociais, como as nossas históricas antepassadas feministas, que sempre tiveram, permeando a bandeira da luta por seus direitos, a causa da paz.
Mulheres como a nossa Pagu, como Emmeline Pankhurst, como Carlota Pereira de Queiroz e tantas outras que carregaram, sim, a bandeira da luta social, pela igualdade de direitos entre homens,mulheres, negros, índios e todas as minorias sociais discriminadas… Mas, em seus corações e em seus discursos, até porque as mulheres são mães e nenhuma mãe quer ver seu filho na guerra, traziam também a imaculada bandeira da paz.
Que este movimento espúrio, de camponesas brutas e ignorantes, seja apenas mais um acidente de percurso na nossa triste história brasileira.
Uma história que, infelizmente, nos últimos anos, ou nas últimas décadas, tem sido, a cada dia, mais vergonhosa.
Uma história porém que, no capítulo da vergonha, ainda não tinha registrado protagonistas mulheres.
*Isabel Fomm Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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