Por: Sônia Blota Belotti*
Tenho recebido muitas mensagens de leitoras do site pedindo artigos sobre o casamento, mas o assunto é tão vasto, que dividi o tema em 2 partes: esta de hoje e os “Príncipes viram Sapos”, na semana que vem.
Rubem Alves, em seu livro “O Eterno Retorno”, escreve a que eu considero uma das mais felizes comparações sobre relacionamentos. Peço que leiam (saboreando) a crônica dele na íntegra, e depois, se quiserem, leiam meus comentários dos parágrafos, que faço bem casualmente, mais com a experiência de vida e de clínica do que com autoridade sobre o assunto…
Os casais de hoje são bem mais descrentes em relação ao casamento, pois, há anos atrás, conseguir casar era visto como solução para a vida, (às vezes, a única alternativa para sair da casa dos pais), principalmente da mulher: casar, virar freira ou “ficar pra titia” eram os únicos destinos possíveis… Mas a revolução sexual trouxe consigo, mais que a liberdade total de corpos e atitudes que apregoava, um medo do compromisso, uma distância afetiva em nome de se ter todas as experiências possíveis e toda a informação liberada.
Continuo acompanhando, o aumento do número de adolescentes grávidas num ritmo assustador, muito bem informadas, mas completamente distanciadas de seus corpos e de suas emoções…E as dúvidas? Ainda são exatamente as mesmas de 15 a 20 anos atrás! É impressionante como as meninas continuam não sabendo como o hímen se rompe, como se atinge o orgasmo e tudo mais, tendo pais liberais suficiente para deixá-las dormir com os namorados (na casa DELES, naturalmente… Ainda não consegui entender bem esta diferença…).
O tempo retirou da frase do título deste artigo, primeiro o “para sempre”, pois duvido que alguém ainda acredite realmente que o casamento seja uma escolha até que a morte os separe! E creio que está retirando o “foram felizes” também, pois resolver viver juntos é entregar-se, de certa forma, sem restrições a um comprometimento de ter um companheiro para um grande período da vida, mas quem hoje associa felicidade com compromisso? Longe disso, cada dia mais parece que procuramos tirar tudo e todos que possam pesar sobre nós, tentamos nos afastar daquilo que exige perseverança e envolvimento profundos: é a era do supérfluo, contanto que bem explicado, do individualismo solitário, porém erótico de preferência. Nada mais anticasamento!
O sexo está sendo vendido como produtos cada vez mais fáceis, como aqueles remédios que a TV anuncia abertamente, ficam na prateleira e que aparentemente não precisam de receita médica, mas precisam sim, e como, de orientação! O rótulo parece que diz: “comam-se como e quanto quiserem!” A bula explica em detalhes como atingir o prazer sexual, dizendo que não há contra-indicações e esquecendo de avisar que são indivíduos e não autômatos que vão tentar chegar lá… E os terapeutas e médicos continuam a receber o exército de “doentes”, para quem as receitas prontas não deram certo, ou pior, para quem os efeitos colaterais foram terríveis, como ter adquirido alguns vírus mortais nestas fantasias que não há conseqüências no sexo ao alcance da mão.
Vocês já pensaram quantas coisas o casamento envolve? Família, filhos, heranças, dinheiro, trabalho…Merle Shain, canadense, diz com humor que “em termos de espaço, o casamento envolve cama, mesa e banho! Propicia conforto e não abre mão da reciprocidade”.
Se o casamento for do tipo tênis: vai havendo um quase invisível acúmulo de decepções e desilusões, cada parceiro vê o outro como responsável por sua realização pessoal, numa relação baseada mais no exigir que no dar.
Se for do tipo frescobol: o acúmulo é de segredos compartilhados, promessas cumpridas, crescimentos pessoais, uma satisfação que vem do processo de compromisso, de ação a dois, neste jogo eterno de ir e retornar…Você já se perguntou como teria sido sua vida se não tivesse se casado com seu parceiro? Se a resposta for: eu não teria sido feliz, vocês dois ganharam o jogo, independente do tempo que ele durou..
* Sônia Blota Belotti é Psicóloga e Psicoterapeuta – CRP 12682-3
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