Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
As mulheres foram culturalmente treinadas para disputar os “melhores partidos” do pedaço. Dependentes, sem acesso ao dinheiro, mesmo à educação, sem direito de propriedade ou de voto,o que restava a elas, senão a dependência absoluta de um macho provedor? Muitas, é claro, tornaram-se o poder por trás do pano. Mas essas são, como sempre, as exceções.
Bagagem cultural é coisa séria e sobrevive por gerações e gerações.
Lembro-me, quando eu era menina, ter presenciado uma conversa entre a minha mãe e uma tia minha. Minha mãe estava indignada com a atitude da cunhada dela e dizia que uma mulher não pode julgar um homem pela quantidade de dinheiro que ele consegue levar para dentro de casa. Minha mãe é uma exceção.
Enquanto os homens são atraídos pelos corpos e pela sensualidade das
mulheres, estas são atraídas pelo poder. Não há maior afrodisíaco para uma
mulher do que um homem poderoso. Afinal, durante séculos este foi o maior gol da vida das mulheres.
Você acha que a Cicarelli se apaixonaria pelo Ronaldinho se ele fosse um auxiliar de escritório ou um motoboy? Você acha que a Luciana Gimenez teria um caso com o Marcelo de Carvalho se ele fosse um câmera, em vez do dono da Rede TV? O que estou dizendo não significa que as duas sejam meras aproveitadoras, golpistas, que ajam de caso pensado. Podem até ser. Mas podem (e acredito mais nesta possibilidade) estar sinceramente apaixonadas pelos seus companheiros. Afinal o poder e tudo que o cerca criam uma aura de atração. Todo mundo quer ter um caso com uma celebridade.
Para uma mulher que é atraída pela posição e pelo poder de um homem, o mundo desaba quando ele perde o poder. Ela não sabe o que fazer. Ela se sente traída e perdida. É natural que fuja de volta para a casa dos pais.
É claro que existem mulheres que amparam seus homens e que dão força a estes quando eles passam por uma tempestade desse tipo. Mas são também as exceções. A maioria alicerça sua própria segurança na segurança do poder masculino. Quando este desaba, ela desaba junto.
Aqui no sul do Brasil, onde a influência européia foi muito mais forte, as mulheres são menos caretas, menos dependentes, mais ousadas. Mas quando se vai mais para o interior e norte e nordeste, a dependência feminina de suas raízes culturais é maior.
Independentemente, porém, do sexo, existem pessoas que têm coragem e pessoas que não têm. Uma mulher corajosa, quando a paixão se consolida em amor, certamente não abandonará o seu homem apenas porque este perdeu o poder. Ao contrário. Ela vai incentivá-lo a continuar na luta.
Corajosos (corajosas) continuam sendo, no entanto e infelizmente, exceções.
Quando acontece o contrário, quando são as mulheres que têm poder, então parece que elas estão condenadas a viver sozinhas. Homens fogem de mulheres poderosas. Homens estão culturalmente condicionados a dominar a mulheres. Como dominar as poderosas, as que ganham mais que eles, as que têm o sucesso que, sempre, na sociedade, foi atributo apenas masculino?
Costumamos imaginar que, pelas conquistas de nossas avós feministas, pelos avanços sociais, a relação de dominação entre homens e mulheres mudou. Ledo engano! Não mudou nada. A sociedade mudou, as oportunidades profissionais e de liberação da mulher são uma realidade. Mas a relação entre os sexos ainda é pautada, talvez inconscientemente, pelos velhos dogmas da sociedade machista.
Talvez, quem sabe?, nas próximas gerações…
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (Rede Mulher de TV, segunda a sexta, ao vivo, 14h00) e autora dos livros “A Menstruação E Seus Mitos”, Ed. Mercuryo e “Sexo Sem Vergonha”, Ed. Soler.