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Comportamento
24 de março de 2005

Carta Aos Sessentões

admin anos sessenta, liberdade Comments are off

Por: Isabel Fomm Vasconcellos*

carta-sessentoesAh, sem dúvida, foi um privilégio ser jovem nos anos sessenta. A Bossa Nova acabara de ser criada e João Gilberto encantava os nossos ouvidos com aquele jeito totalmente novo de cantar “Chega de Saudade”. Os versos eram de Vinícius. A música, do Tom. Todas as garotas queriam ser as de Ipanema. E Mary Quandt causava furor ao subir as saias das meninas, num eco aos muitos gritos de liberdade que viajavam pelo mundo. Liberdade para o corpo das mulheres! Os sutiãs foram queimados! Abaixo a opressão. A pílula concretizou o sonho de amar sem engravidar. Faça Amor, Não Faça a Guerra. “All you need is love”, berravam os Beatles nas nossas vitrolinhas a pilha e gravadores de rolo. Todo mundo lia o Pequeno Príncipe e sabia que se tornava eternamente responsável por aquilo que cativava, mas sabia também que tudo era efêmero e o importante era que fosse eterno, enquanto durasse. Todo mundo era contra a Guerra do Vietnã. Os garotos que, como eu, amavam os Beatles e os Rolling Stones.

Aqui no Brasil, a censura corria solta e os jovens se reuniam, às escondidas, imaginando como iriam derrubar o regime militar. Alguns foram ingênuos e heróicos o suficiente para pegar em armas. Muitos pagaram com a vida. Tinham aprendido, com Guevara, que importante era endurecer sem perder a ternura e, com McLuhan, que o meio é que é a mensagem. Elis Regina cantava, lindamente, que a terra era de ninguém e Nara Leão afirmava que podiam, bater, prender, mas que não mudava, não, de opinião. Todo mundo acreditava que o mundo já não seria o mesmo, depois de tanta briga pela liberdade.

Os meninos dos 60 cresceram. Apesar de namorar e trepar com as garotas papo firme, prefiriram casar-se com aquelas que mais lembravam as suas mães. Acabaram se acomodando em grandes empregos nas multinacionais e se deixando seduzir pelos muitos confortos da vida moderna. Os mais radicais politicamente, foram exilados, e, no exílio, descobriram as gravatas hermé e as delícias consumistas do primeiro mundo. Ah, é verdade que tentaram criar seus filhos num clima de menos repressão e mais liberdade, porque, afinal, isso era a única coisa que restava dos seus sonhos. Criaram uns seres sem limite, loucos por drogas e por automóveis, individualistas, preocupados apenas com o seu próprio bem estar.

O mundo, que deveria ser livre, ficou ainda mais careta. Drummond e Vinícius foram substituídos pelos versos fáceis das canções sertanejas. Chico Buarque parou de construir. João Gilberto virou apenas um velho chato que, nos shows, reclama do som e da platéia. Caetano se transformou em artigo de consumo e fez sucesso, quase quarenta anos depois, com a mesma música com que estourara em 1967. Mas já não era a alegria, alegria. Era a influência da novela das oito. Roberto se tornou um cinquentão vestido de hippie de boutique e que só faz suspirar as ex-moçoilas românticas, todas sozinhas, ou por solteironas, ou por divorciadas, ou por mal casadas. Ninguém lembra mais de Marcuse ou McLuhan. O meio ficou sem mensagem. E Fidel se tornou apenas mais um ditador inflexível e sanguinário.  O sexo, que deveria ser livre, virou escravidão. Agora se é obrigado a ter prazer, orgasmos múltiplos são exigidos dos corpos que devem ser esculturais. A ditadura da moda substituiu os militares. E você que se mate para estar nos padrões!

Ah, liberdade! O que será isso, mesmo? Será que alguém ainda se lembra?

Todos metidos nessa corrida pelo ter, esquecidos de ser. Só uns velhos poetas e sonhadores ainda suspiram de saudades, perplexos, a contemplar esse mundo de novas exigências, de rodeios, de sertanejos bocós, de programas ignorantes nas televisões, de reeleição de direitistas na América, de droga e de violência gratuita. Baby, do you wanna dance?

Console-se. Temos o computador, a Internet, o celular. Ninguém mais vai poder, no mundo, nos calar. Mas será que ainda temos alguma coisa a dizer? Temos? Então, por que nos calamos? Por que nos conformamos? Por que estamos, cada um no seu canto, dispersos e mudos? Ou, nos anos sessenta, era tudo, também, apenas moda?

 

* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, 14h00, na Rede Mulher de TV) e autora dos livros “A Menstruação E Seus Mitos”, ed. Mercuryo e “Sexo Sem Vergonha”. Ed. Soler.

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Flavia Hesse é inspiradora digital, terapeuta floral, publisher e advogada

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