Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Enquanto educarmos as nossas crianças pensando que existem coisas que são só para homens e outras coisas que são só para mulheres, estaremos perpetuando o machismo, o desencontro entre os sexos, a falta de apetite sexual das mulheres, a violência doméstica.
Filho é coisa de mulher. Assim, vemos os homens se distanciarem da paternidade responsável e continuarem a se omitir quando se trata das questões de contracepção. Fica tudo com as mulheres.
Liberdade sexual é coisa de homem. Assim, continuaremos a ver as mulheres confundindo desejo com amor e paixão; continuaremos a ver as mulheres reclamando da dificuldade para atingir o orgasmo e usando o sexo apenas como moeda, elemento de troca.
Política é coisa de homem. Assim continuarão as mulheres ignorantes de toda e qualquer negociação política, (mesmo aquelas que simplesmente as fariam subir, ganhar a promoção e o aumento de salário dentro de uma empresa); continuarão as mulheres a usar o seu direito de voto – que foi conquistado para elas com o sofrimento das antepassadas feministas sufragistas – para votar no candidato mais bonito ou mais simpático, ou, ainda, no candidato do marido, do chefe, do pastor.
Delicadeza é coisa de mulher. Assim, continuaremos a ver os homens a destrambelhar sua agressividade desenfreada (e estimulada como um sinônimo de masculinidade) contra seus subordinados, no trânsito, nas discussões políticas, nos estádios de futebol e até mesmo dentro de casa, contra os filhos e as esposas.
Nem todas as mulheres são as florzinhas delicadas que os anúncios de publicidade costumam endeusar (equivocadamente) no Dia Internacional da Mulher. Nem todos os homens são um poço de racionalidade e zero de sensibilidade. Tanto homens como mulheres são indivíduos, com suas próprias personalidades e sua própria maneira de ser. Não podemos mais criar as nossas meninas para serem florzinhas submissas. Nem os nossos meninos para serem estúpidos e machistas.
Mas, a despeito de muitos de nós acreditarmos que não estamos fazendo isso, a sociedade ainda está. A mídia, principalmente a televisão, só faz reforçar todo o tipo de preconceito, até mesmo quando pensa que está colocando em alguma novela uma mensagem anti-preconceito.
Nunca viveremos em paz enquanto acreditarmos que os homens e as mulheres têm papéis sociais antagônicos.
Liberdade na educação! Para que cada criança siga seu próprio caminho de acordo com as suas próprias tendências, vocações e inclinações.
* Isabel Fomm Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (Rede Mulher de TV, segunda a sexta, meio dia) e autora de vários livros, o mais recente, “Sexo Sem Vergonha”, Soler Editora.