Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Uma leitora me escreve pedindo orientação. Ela está, pela descrição que faz dos fatos, sendo vítima de assédio sexual e também de assédio moral no trabalho. O homem (hesito em chamá-lo de “colega”) que a deseja, e pelo qual ela não tem o menor interesse, também recentemente começou a persegui-la profissionalmente.
Fico numa sinuca.
Eu sei muito bem que a nossa justiça já aceita e leva para a frente as denúncias de assédio sexual. Mas eu sei também, porque já vivi muito, que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.
Sugeri à moça que chamasse o rapaz para uma conversa franca e dissesse a ele, com todas as letras, que não está interessada e que, portanto, ele a deixasse em paz.
Mas só Deus sabe se vai funcionar!
No entanto, se não funcionar e ela resolver partir para a denúncia, vai correr vários riscos:
- Pensarem que ela moveu um processo apenas para se aproveitar do colega (o que algumas mulheres, abusando da lei que as feministas conquistaram para elas, efetivamente fazem);
- imaginarem que ela provocou o cara e depois se arrependeu;
- constar, para sempre, das suas referências profissionais, que ela moveu um processo de assédio sexual e isso, em vez de contar pontos a seu favor (porque ela soube usar seus direitos), contar contra;
- começarem as fofocas, no ambiente de trabalho, acusando-a de se vestir de maneira provocante ou de se ter se insinuado para o sujeito em questão (e estas fofocas partirão muito mais das suas próprias colegas mulheres do que dos homens, podem ter certeza!)
Até muito pouco tempo atrás, as mulheres que eram vítimas de estupro ouviam das autoridades policiais (quando tinham a coragem de denunciar a violência) os mais antigos chavões machistas: você provocou, a culpa é sua.
Os homens, acostumados há milênios, a pensar nas mulheres como objetos sexuais, dispunham delas na medida em que tinham poder sobre elas. Patrões, donos de terra, próceres locais, simplesmente acreditavam que, se desejassem uma mulher, podiam tomá-la, como se fosse um bicho de propriedade deles, e pronto.
Hoje, embora amparadas pela Lei, as mulheres ainda temem, e não sem razão, fazer uso destes direitos. Poucas mulheres denunciam as violências que são cometidas contra elas, no trabalho e no próprio lar. E as que denunciam quase sempre se arrependem.
De nada adiantarão essas leis de proteção à violência, enquanto os nossos juízes e promotores não se conscientizarem da injustiça há muito sofrida pelo chamado “sexo frágil”. Ah, eu sei sim que muita gente, na Justiça Brasileira, já está consciente disso tudo, mas, na prática, as denunciantes acabam sofrendo outros tipos de preconceitos.
Porque a nossa sociedade ainda é sim muito machista e acaba sempre acreditando que as mulheres são “culpadas” por exercer atração sobre os homens. Até a Bíblia acha isso.
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora. Seu último livro é Sexo Sem Vergonha, Ed. Soler.