Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Se existisse alguém que só acreditasse no que diz a nossa mídia, esse alguém teria uma imagem da mulher brasileira mais ou menos assim:
– ficam grávidas de homens ricos e/ou famosos para faturar a pensão alimentícia e, ao mesmo tempo, aparecer na mídia e ficar famosas;
– delatam os seus patrões, violando a ética profissional, sem ter certeza de que esses patrões cometeram ou não atos ilícitos, para aparecer na mídia e ter os seus quinze minutos de fama e, além disso, ser convidadas para posar nuas para revistas pornográficas, mesmo sendo feias e mal feitas de corpo;
– se pegam a tapas nas “baladas” noturnas com possíveis rivais;
– promovem festas de casamento, mesmo já sendo casadas, com homens famosos e são abençoadas por padres interessados mais em aparecer do que em seguir os dogmas de suas religiões;
– são idiotas, apolíticas, que emprestam seu nome e seu CPF ao marido e nem desconfiam quando a empresa, que é delas, começa a faturar rios de dinheiro da noite para o dia;
– fazem qualquer negócio, desde se drogar até se endividar, para conseguir um corpo perfeito, corpo para servir aos homens;
– dão festas milionárias para os seus gatos e cachorros;
– vivem para cozinhar e fazer trabalhos manuais.
Agora me responda, minha amiga e leitora: você é alguma dessas coisas acima descritas?
Ou você é uma mulher, cheia de amor para dar, que paga seus impostos, trabalha pra burro, cria seus filhos, ampara e estimula o seu companheiro (quando tem um) e vive tentando se aperfeiçoar, espiritual e profissionalmente, vive tentando levar uma vida mais saudável e mais rica, vive tentando proporcionar mais conforto, mais saúde e mais alegria para aqueles que ama e que dependem de você, de sua força, de seu carinho, de seu gesto cotidiano?
A imagem da mulher brasileira na mídia de hoje em dia é a imagem da aproveitadora, da puta, da mulher objeto… ou então é a imagem da mulher do passado, da tola submissa, da ingênua restrita às quatro paredes do lar, da semi-analfabeta, da politicamente analfabeta.
Ah, não merecemos isso.
Somos, a maioria, mulheres de fibra. Honestas, direitas, amorosas, trabalhadoras, intutitivas. Somos nós o conforto e a sabedoria na hora em que nossos filhos e nossos homens se sentem perdidos, injustiçados, desesperados. Somos nós que amparamos e aconselhamos amigos, vizinhos, amigos, colegas. Somos nós, mulheres, as eternas mamas (mesmo as que não são mães biológicas) sempre dispostas a ouvir, a compreender, a perdoar, a acalentar.
Nossa herança cultural é a herança do poder sub repitício. Caladas e discriminadas por milênios, consideradas cidadãs de segunda classe, sem direito ao voto e à cidadania plena, mesmo assim, nós mulheres, ao longo da história, soubemos nos fazer presentes e imprescindíveis na vida dos homens e das crianças. Nossas avós conquistaram para nós, com muita luta pessoal e sofrimento, os direitos que temos hoje na sociedade. Mas, mesmo sem eles, estivemos presentes e atuantes na história da humanidade.
Não somos putas. Não somos aproveitadoras. Não somos idiotas que ignoram o que os nossos maridos fazem usando os nossos nomes e o nosso CPF. Não somos escravas do corpo. Nem mulheres objetos. Não somos essas “coisas” que algumas revistas e televisões fazem de nós.
É claro que existem mulheres baixas, aproveitadoras, bandidas, malfeitoras, putas. Assim como existem homens baixos, aproveitadores, bandidos, malfeitores, putos.
Mas são as exceções.
A sociedade é composta, sim, de homens e mulheres dignos, que têm vergonha na cara, honra, probidade e honestidade.
É hora de nós mulheres, tão mal traduzidas pela nossa mídia, sairmos às ruas, em passeata, gritando: Não somos essas fulaninhas. Somos nós, belas, simpáticas, amigas, mães, acolhedoras, fêmeas completas pra ninguém botar defeito!
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora. Seu último livro é Sexo Sem Vergonha, Ed. Soler.