Por: Isabel Fomm de Vasconcellos*
As princesas russas aprendiam, ao longo de sua educação primorosa, a limpar privadas. Isso porque sempre havia o risco de que uma revolução as levasse para a cadeia e suas mestras achavam que não seria digno de uma princesa viver num ambiente sujo.
A tradição feminina de cuidados com o lar, infelizmente, na maioria das vezes, não inclui os machos.
Por isso os homens largam meias e cuecas pelo caminho, parecem ignorar que existem cinzeiros, comem sanduíche andando pela casa e deixando uma trilha de farelos digna de João e Maria, emporcalham os banheiros apenas para tomar um banho e, apesar de todo esse horror doméstico, muitos deles ainda se julgam bem educados.
Que me perdoem as exceções, mas a regra, quando se trata de homens no ambiente doméstico ou, pior, na cozinha, é: sujeira, sujeira e sujeira.
Parece que eles não têm a menor noção de higiene ou limpeza.
E de quem é a responsabilidade?
Das sagradas mamãezinhas que vivem limpando a porcaria dos filhos machos e obrigando as filhas fêmeas a aprender tudo sobre os serviços domésticos.
Jamais me esquecerei de um dia, há muitos anos, em que acompanhava uma amiga na procura de um apartamento para alugar. A corretora abriu a porta de um deles, explicando que lá morava um rapaz sozinho. De cara, na sala, uma mesa de centro cheia de coisas: apostilas, roupas imundas, uma pilha de objetos bagunçados coroada por um tênis fedorento. A visão era tão apocalíptica que até a corretora ficou sem graça. Nem vimos o resto. Fomos embora, rapidamente, absolutamente horrorizadas, sem querer passar pelo constrangimento de ver os outros cômodos.
Sei que existem homens que são absolutamente limpos e mantêm o ambiente em ordem. Mas, repito, eles são a exceção que confirma a regra.
O desprezo social pelo trabalho doméstico tem tudo a ver com a discriminação das mulheres. Homens que acham indigno lavar a louça ou se importar com o ambiente do lar estão expressando a educação machista que receberam de suas mães.
Hoje em dia, não se pode mais conceber isso. As mulheres da família geralmente trabalham fora, contribuem para o orçamento doméstico (quando não são o grosso dele) e não podem mais ser responsabilizadas pela manutenção da casa. Todos têm que colaborar.
Parece um detalhe, mas é muito importante que ensinemos aos nossos filhos homens a manter ordem e higiene numa casa. O mundo mudou. E ninguém, em sã consciência, pode continuar a conviver com porquinhos que acreditam que as mulheres existem para limpar a sujeira deles.
*Isabel Fomm de Vasconcellos é apresentadora e produtora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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