Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Um dado alarmante é 45% das mulheres, em fase de menopausa, não têm vida sexual ativa. Destes 45%, 30% não tinham também uma vida sexual satisfatória antes da menopausa.
A histórica repressão das mulheres, em todos os campos da sociedade, foi também cruel com relação ao sexo.
Mulheres não tinham direito ao prazer sexual. Não tinham direito à nada, até bem pouco tempo atrás, e muito menos ao prazer. Homens pensavam que prazer era uma coisa para se ter com as mulheres então ditas “fáceis” ou prostitutas.
Quando as mulheres começaram a reivindicar seus direitos de cidadãs, seu direito a um lugar no mundo, começaram também a discutir o seu próprio corpo e o uso e as determinações que a sociedade fazia de seus corpos. As primeiras reivindicações femininas com relação aos seus direitos de cidadã são do fim do século XVIII e começo do XIX. As históricas sufragistas sofreram toda a sorte de repressão social, algumas morreram, mas acabaram conquistando o direito ao voto. No começo do século XX começaram a aparecer a reivindicações femininas com relação ao direito a dispor e a mandar no seu próprio corpo. Margaret Sanger – enfermeira da classe alta norte americana – dizia que a mulher jamais seria livre se não fosse dona do seu próprio corpo. Trabalhou loucamente pelo direito à contracepção, foi presa, exiladada, discriminada, processada. Na Inglaterra, Marie Stopes seguiu os passos de Margaret. Elas são hoje consideradas as pioneiras da contracepção.
Quando, meio século depois, surgiu a pílula anticoncepcional, todo mundo acreditava que, livres da perspectiva da gravidez indesejada, as mulheres se liberariam para o sexo. Ledo engano. O buraco, como sempre, era mais embaixo.
Séculos de repressão sexual, de identificação do feminino com o mal, com o poder demoníaco de sedução, não iriam cair por terra apenas por causa de um comprimidinho.
As mulheres, supostamente liberadas, depois dos anos de 1960, caíram numa outra armadilha: a do sexo com amor. Ainda hoje – em tempos de suposta liberação sexual, com o sexo correndo solto na mídia – pode-se ouvir muitas mulheres dizerem: “para mim, sexo só com amor”.
Que conversa é essa? O amor é um evento raro e, na maioria das vezes, demora um pouco a aparecer nas nossas vidas. Estarão as mulheres condenadas a viver sem sexo até que apareça o verdadeiro amor em suas vidas?
O sexo é a maior força criativa da natureza. Todo ser humano precisa do prazer sexual, seja ele homem ou mulher, homossexual ou bi-sexual.
Os homens não têm esse problema. Quando eles desejam uma mulher, sabem que a desejam e pronto. Não precisam da desculpa do amor, não se dizem apaixonados. Apenas desejam. Já as mulheres, muitas vezes, pensam estar apaixonadas por alguém que, na verdade, elas apenas estão desejando. Isso dá uma baita confusão.
Por isso, o papel do ginecologista, hoje, vai muito além do simples exame clínico. O ginecologista precisa sim, se quiser realmente honrar o seu juramento de Hipócrates, ouvir e compreender cada uma de suas pacientes, com suas particularidades, suas necessidades e só então poderá, junto com ela, indicar o método contraceptivo ou de reposição hormonal na menopausa, que melhor se adapte àquela paciente. E cada uma é única.
O marketing farmacêutico, hoje, promove os benefícios paralelos dos métodos contraceptivos que colocam no mercado. Tal pílula também faz bem para a pele. Tal medicamento ajuda a recuperar o colágeno perdido na menopausa. Nada, porém, faz mais bem para a pele do que o sexo. Onde está a preocupação dos laboratórios farmacêuticos com a sexualidade das mulheres? Alguns medicamentos oferecidos hoje às mulheres têm sim interferência direta no desempenho e no desejo sexual. Mas todos se calam com relação a estas questões. Como se sexo ainda fosse pecado. E, na verdade, uma vida sexual sadia é sinônimo de saúde. Estarão os nossos marketeiros farmacêuticos, cegos?
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do programa Saúde Feminina, na Rede Mulher de TV, e autora de vários livros.