Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
O livro de Dan Brown, O Código Da Vinci, ajudou a tornar popular uma idéia que vem circulando há algum tempo entre os esotéricos e os estudiosos dos evangelhos apócrifos: a de que Jesus Cristo era casado e que iniciou uma linhagem de “sangue real”, que muitos pensam ser a dinastia dos reis merovíngeos. E Jesus seria casado com Maria Madalena.
Muitos vêem, nessa história, um Cristo político, o rei dos judeus, que reivindicaria para si o poder que, no seu tempo, em Jerusalém, era dos romanos. E Madalena, a Magdala, depois da crucificação, teria fugido para o sul da França carregando no ventre a filha de Jesus.
– Todas as religiões discriminam a mulher! – exclamou corajosamente a minha colega na Rede Mulher de TV (e muito amiga) Fátima Turci, num almoço com a diretoria da emissora, que é composta, em grande parte, por membros da Igreja Universal.
Lembrei a ela que a antiga religião dos druidas celtas não discriminava as mulheres.
Mas foram essas mesmas sacerdotisas celtas que deram início à caça às Bruxas pela Inquisição da Igreja Católica. Essa igreja caçou e queimou na fogueira muitas mulheres sábias, por séculos. A sabedoria delas se perdeu.
E o sexo feminino foi transformado, a partir da Idade Média, no chamado sexo frágil. O que resultou em uma crença altamente equivocada sobre a personalidade, o temperamento e a capacidade das mulheres.
Inferiorizadas por séculos e séculos, condenadas a viver à sombra dos homens, elas começaram a se revoltar por volta de 1800. Surgiram as sufragistas, que lutavam pelo voto. Delas, vieram as feministas (as legítimas!) que acabaram conquistando para nós, mulheres modernas, todos os direitos que (ao menos no papel) temos hoje na sociedade ocidental.
Mas o nosso mundo se tornou masculino.
Apenas masculino.
E masculino significa os valores do sol: a conquista, a competição desenfreada, a busca do poder a qualquer preço e, em última instância, a guerra.
Quando as mulheres consolidaram suas conquistas sociais e adentraram realmente no mundo produtivo, o que começou a acontecer nas décadas de 1970 e 80, muitas delas se “masculinizaram”. Começaram a agir e a pensar como homens. Afinal, o modelo de comportamento nas universidades, nas empresas e na política era apenas o modelo masculino.
Nos anos seguintes, as próprias mulheres começaram, timidamente, a contestar isso.
Existe uma maneira feminina de ver o mundo e as relações sociais. Existe um real feminino na natureza. Que pouco tem a ver com a imagem da mulher frágil e submissa, de direitos sociais castrados e cassados.
Mas temo que, ainda hoje, não saibamos exatamente o que seja esse feminino.
O poder feminino se manifestou, a despeito da repressão social e cultural sofrida pelas mulheres, de alguma forma, ao longo da História.
A intuição, a delicadeza, o sentimento da maternidade, a espiritualidade, a luta pela paz, a manipulação da matéria, são exemplos deste feminino perdido. Perdido e que, agora, no século XXI, começa a ser recuperado.
Nós mulheres precisamos, sim, colocar os valores femininos no mundo produtivo. Precisamos atuar no trabalho e na política como mulheres e não mais como homens.
Este é o nosso desafio, é o trabalho e a luta que a vida nos apresenta nos dias de hoje, nesse momento.
Precisamos reencontrar o equilíbrio e a harmonia que o mundo perdeu quando a civilização cristã ocidental pretendeu que apenas os homens detivessem o poder.
Precisamos resgatar a deusa, a Magdala, a outra metade do filho de deus.
Porque somos fortes. Mas a nossa força é bem mais doce.
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora de vários livros, entre eles Sexo Sem Vergonha. Está escrevendo um novo livro sobre o tema desta crônica.