Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Houve um tempo em que a humanidade precisava desesperadamente de nossos filhos. Era preciso povoar a terra. As crianças, frequentemente, privadas das conquistas modernas da medicina e do saneamento, morriam. Adultos morriam muito cedo. A sociedade precisava mesmo dos nossos filhos. Talvez por isso tenham as várias culturas do planeta endeusado o papel da maternidade. O mundo mudou. Está hoje superpovoado. Já não precisa da mesma maneira dos nossos filhos. Mas, estranhamente, continuamos a repetir as velhas e ultrapassadas fórmulas do endeusamento do papel das mães. Existem muitas e muitas mulheres, perfeitamente aparelhadas fisicamente para a gestação, que simplesmente não encontram em si mesmas essa vocação desmedida para a maternidade. Mas a sociedade continua a cobrar delas essa função. Como se para nós mulheres a realização pessoal não fosse possível sem a reprodução. Ora, francamante! Lutamos tanto para sermos reconhecidas como cidadãs de primeira classe, para termos o direito de votar, de estudar, de trabalhar, de encontrar o prazer no sexo, para sermos donas de nosso próprio dinheiro e de nosso próprio destino e, de repente, não seremos nada se não formos mães?
Cientistas, artistas, executivas, mestras, esportistas…A vida das mulheres está cheia de coisas maravilhosas que não mais dependem de barrigas gerando filhos.
A Dra. Angelita Gama é a mais importante autoridade médica nacional na proctologia. E nunca quis ter filhos para que estes não atrapalhassem as suas atividades profissionais. Como ela, inúmeras mulheres, hoje em dia, estão optando por não serem mães. Mas nem todas conseguem. A pressão social para a maternidade é ainda muito grande. Como se ela, a maternidade, fosse a única forma possível de realização para as mulheres, como, de fato, já foi no passado.
Nem todo mundo tem a vocação para mãe ou pai. Muitos casais têm filhos apenas porque é o que se espera, socialmente, deles. Sem refletir ou contestar. No entanto, muitos casais seriam mais felizes sem filhos. E muitas mulheres não teriam as suas carreiras profissionais truncadas pela maternidade e nem se debateriam num mar de culpas por não poderem se dedicar tanto aos filhos quanto seria o ideal.
Já outras mulheres têm, sim, a vocação para a maternidade, têm a sua realização na criação de seus rebentos, graças a Deus, porque se ninguém tivesse esse desejo a humanidade se extinguiria.
Mas, nos dias de hoje, já é possível escolher.
Por isso é preciso, antes de embarcar nessa pressão social antiga e ultrapassada, refletir. Saber se você realmente quer ser mãe e passar o resto dos seus dias sendo responsável por um outro ser humano, aquele que você gerou. Um filho é coisa para toda a vida. Não é apenas o status da gravidez, não é apenas a gracinha que são os bebês. Os bebês crescem e viram adultos, nem sempre maravilhosos. Os filhos, para se tornarem adultos sadios e bem resolvidos, exigem renúncia e muito amor e abnegação por parte dos pais. Talvez essa missão não se encaixe no seu ideal de vida. E, se não se encaixar, não se abale: não há nada de errado nisso. Errado é julgar que a maternidade (ou a paternidade) são dons de todo e qualquer ser humano. Acredite, não são.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, ao vivo, 14h00, na Rede Mulher de TV e Rede Família) e autora do livro “A Menstruação E Seus Mitos”, Ed. Mercuryo.