Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
O mundo está cheio de mulheres que sofrem à toa.
Sujeitas à dança dos hormônios, em seus corpos, que é o preço que se paga pela capacidade de ser mãe, as mulheres frequentemente são vítimas de distúrbios hormonais, mas acham tudo muito normal.
E eu não estou falando de doenças como miomas, ovários policísticos, endometriose ou cólicas menstruais. Tudo isso acaba levando as mulheres ao médico e elas acabam resolvendo.
Estou falando de transtornos do humor. Coisas que raramente levam ao médico, coisas que são consideradas como simples irritabilidade ou desvio de comportamento. E podem, sim, ter causas hormonais.
Começa na adolescência. A mãe e a família classificam aquela adolescente, que tem crises de humor e de irritabilidade, como “aborrescente” e raras vezes vão investigar se, por trás daquelas crises de humor, de histeria ou até mesmo de depressão, não está uma brava TPM, que pode ser controlada com medicamentos e dieta adequada.
Muitas mulheres passam todo o seu período fértil (30 anos, em média; são três décadas!) sofrendo de TPM e atribuem as suas crises de humor aos mais diversos fatores, sem querer admitir que estejam sendo vítimas de sua dança hormonal e desse horrível hábito moderno de menstruar todos os meses. Moderno, sim, porque as nossas avós não menstruavam. Isso porque elas tinham um filho atrás do outro, viviam grávidas ou amamentando, duas situações em que não se menstrua.
Nós, mulheres modernas que optamos por poucos filhos, vivemos menstruando como umas loucas e pagamos um alto preço por isso: desde a TPM até a endometriose, passando pelos miomas.
Menstruar todos os meses, ao contrário do que se pensa, não tem nada de natural. A natureza fez a mulher para ter um filho atrás do outro e menstruar raramente.
É um absurdo que, nos dias de hoje, mulheres que fazem uso de anticoncepcionais ainda menstruem.
Quem opta por usar métodos contraceptivos hormonais já não está num ciclo “natural”. Então pra que menstruar? Pra ficar sofrendo?
Aí, depois de décadas de sofrimento inútil (as crises de humor na TPM fazem algumas mulheres perderem os empregos, o marido e até o respeito da sociedade), vem a menopausa. Alívio? Ledo engano.
Junto com os sintomas da falta de estrogênio (na menopausa os ovários param de funcionar e deixam de produzir estrogênios), que vão desde os calores até o risco da osteoporose, muitas vezes vem também a depressão.
E depressão não é estado de espírito. Depressão é doença, é falta de alguns neurotransmissores no cérebro (como a serotonina e a dopamina) que pode levar a graves estados depressivos e até ao suicídio.
Mas ninguém precisa sofrer à toa. Basta procurar um médico. Eles dispõem hoje de um arsenal de medicamentos capazes de corrigir todos esses estados.
No entanto, muitas mulheres preferem atribuir as suas TPMs e as suas depressões a causas circunstanciais da vida, negando-se, com um orgulho ignorante, a admitir que a maravilha do milagre da capacidade de ser mãe, nos cobra, sim, um alto preço.
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (segunda a sexta, Rede Mulher de TV) e autora de vários livros.
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