Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Hoje em dia todas as mulheres sabem que devem fazer exames preventivos e isto já se tornou uma rotina na vida daquelas que têm acesso aos serviços de saúde. Papanicolau, para prevenção do câncer de útero e mamografia para a prevenção do câncer de mama.
No entanto, o que se ouve, sempre, sobre a mamografia é que ela é um exame horrível, que dói demais, que é um sofrimento, uma violência e outras coisas por aí.
Engraçado. Mamografia não dói nada. É um exame meio incômodo, a posição do corpo, a compressão das mamas… mas dor? Não dói absolutamente nada!
Por que será que a maioria das mulheres alega ter sentido dor na mamografia?
Quero crer que essa dor está muito mais na cabeça do que nas mamas.
A repressão sexual vivida, por milênios, pelo sexo feminino certamente tem alguma coisa a ver com isso. Muitas mulheres tem uma grande dificuldade de conviver com o próprio corpo. Uma dificuldade cultural. Não se tocam, não se conhecem. Algumas têm vergonha de ir ao ginecologista. Outras se recusam a usar o maravilhoso absorvente interno na menstruação porque têm dificuldade de manipular os genitais. A mesma coisa se aplica aos anéis vaginais, excelente método contraceptivo que poderia eliminar vários problemas de mulheres que não o usam por essa mesma dificuldade.
Pensar que os órgãos sexuais são “sujos” é comum na cultura feminina.
Pode-se estender esse raciocínio às mamas.
No entanto, na ânsia de corresponder ao mito do corpo perfeito, inúmeras mulheres se submetem ao implante de silicone nas mamas e aí ninguém fala em dor… Que coisa estranha, não?
A tal dor fictícia da mamografia pode estar associada também ao pavor da mutilação. Até muito pouco tempo atrás ter um câncer de mama significava perder a mama, mutilar-se, ficar feia. Hoje as cirurgias, para quem tem câncer, são muito menos mutiladoras e, na maioria das vezes, o mastologista trabalha em conjunto com o cirurgião plástico e a mulher sai do centro cirúrgico com as mamas muito mais bonitas do que antes.
A médica que fez minha última mamografia, nesta semana, conversando comigo sobre esse mito da dor, me contou que muitas mulheres até desmaiam (mulher desmaiando é coisa fora de moda, coisa dos anos cinqüenta!) durante o exame.
Meninas, o que é isso? Que droga de covardia é essa? Mamografia dói menos que anestesia de dentista, que botox ou preenchimento, não dói nada, é apenas incômodo. Mas é um exame extremamente necessário, que deve ser feito uma vez a cada ano, pois pode detectar um câncer lá no comecinho e, assim, no comecinho, você tem 100% de cura!
A disseminação deste mito que mamografia dói, que é um horror, etc. e tal é apenas mais um des-serviço que nós mulheres prestamos a nós mesmas.
Não tenha medo do seu corpo! Trate bem dele, faça os exames preventivos, pare de ter vergonha do corpo. Esse negócio de vergonha dos nossos órgãos sexuais é uma coisa antiga, fora de moda, é do tempo em que éramos umas coitadinhas, reprimidas, cidadãs de segunda classe!
Mamografia NÃO dói, acredite. A dor que você por ventura sinta está apenas na sua cabeça, é uma dor cultural, uma dor histórica, do tempo em que éramos, nós mulheres, as depositárias do pecado e do mal do mundo.
O seu corpo é uma máquina maravilhosa, fonte de prazer e de alegria.
Cuide bem dele. Não tenha medo dele!
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do “Saúde Feminina” (Rede Mulher de TV, segunda a sexta, meio dia) e autora de vários livros.
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