Por: Sônia Blota Belotti*
Este é o título do best-seller da terapeuta inglesa Robin Norwood (Editora Siciliano), que trata as paixões obsessivas como uma dependência, o que já deu origem ao grupo de auto-ajuda denominado MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas), com página na Internet, literatura própria e endereços em vários lugares do Brasil.
Muitas mulheres, de fato, experimentam a paixão como um encantamento supremo, um feitiço do qual não conseguem fugir, um estado de confusão em que se mesclam esperanças, expectativas de felicidade e medos profundos. Ocupam-se tanto das suas histórias de amor, tornam-se tão dependentes das relações amorosas, mesmo quando insatisfatórias, que permanecem durante anos ou fases inteiras da vida nelas, entregando suas energias e fazendo desses amores o núcleo da existência.
Efeito destrutivo
Renunciar a tudo para seguir o amado é coisa antiga entre as mulheres, principalmente entre as mais jovens. Mas a fixação num “grande amor” pode ter efeito bastante destrutivo. A mulher que vê no relacionamento amoroso com o homem o sentido exclusivo da sua vida acaba de mãos vazias quando seu homem arruma outro amor ou mesmo outra atividade na vida. Ela começa a acreditar que já não corresponde aos ideais masculinos de beleza e sedução. Parece que o seu poder de feminilidade se desfaz e, como era o único que pensava possuir, perde metade de sua identidade. Sente-se decepcionada e sem saída, como traduzem as palavras de uma paciente: “Ficar ao lado dele aceitando sua relação com a outra ou separar-me dele é como ter que escolher entre duas maneiras de morrer!”.
Fantasia romântica
Atitudes como essas escondem valores que durante séculos moldaram a imagem do feminino, como o vínculo amoroso permanente com um parceiro ser para a mulher o centro da vida ou, para os homens, que ele não assuma tanta importância quanto os objetivos profissionais, por exemplo. Ainda que hoje duvidemos conscientemente disso, nosso inconsciente está impregnado dessa expressão de fantasia romântica de amor. É ela que parece motivar muitas mulheres a vencer dificuldades na vida, apoiando-se na total comunhão com o parceiro amado. Por isso, também, se sentem as mais prejudicadas quando a relação se rompe. É quase como se a culpa fosse delas.
A paixão, assim, adquire o mesmo sentido de fatalidade. E a mulher apaixonada segue, tentando fazer de tudo para impedir o fim da relação, cada vez controlando mais o parceiro, gravitando em torno dele, querendo chegar mais perto ou estar junto o tempo todo, o que acaba irritando e afastando o amado.
Feitos um para o outro
No início de um relacionamento ou de uma vida em comum, é natural que cada um dos parceiros se relacione exclusivamente com o outro para ter e dar aconchego. O terapeuta Abraham Maslow chama isso de identificação de necessidades: um sente as necessidades do outro como se fossem suas, quase numa unidade a dois. Mas o bom relacionamento amoroso exige que as individualidades sejam respeitadas: que cada um, na prática, encontre segurança, mas também liberdade para desenvolver e viver suas próprias idéias e objetivos.
Encontrar o equilíbrio entre comunhão e autonomia, entre o nós e o eu, proximidade e distância é uma tarefa difícil, que leva tempo e implica crescimento e amadurecimento pessoal — coisas que corações e mentes cegos de paixão, temporária ou permanente, costumam simplesmente ignorar.
* Sônia Blota Belotti é Psicóloga e Psicoterapeuta – CRP 12682-3
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