Por: Carla Nechar de Queiroz*
Dando continuidade ao assunto anteriormente iniciado, vamos tratar agora do como respiramos. Quando tivermos esta informação vai ficar mais fácil compreender as conseqüências de não fazê-lo corretamente e também perceber por que pode ser muito demorado voltar a fazê-lo uma vez que comecemos a tratar esta dificuldade. Bem, desde já peço desculpas pelos termos técnicos e pelas explicações que parecem inacabáveis mas que são necessárias para a compreensão do mecanismo da respiração. Logo ficará claro que o nosso corpo, de uma maneira geral, funciona seguindo as leis da Física, o que sinceramente não facilita em nada a compreensão do que ocorre no dia a dia.
Os pulmões são em número de dois, um esquerdo e um direito e uma comparação simplista seria imaginá-los como duas bexigas, destas de aniversário mesmo. Quando cheias, elas ocupam um determinado espaço mas quando vazias, ocupam um espaço muito menor. Porém, não podemos, no nosso corpo, ora criar espaço, ora desaparecer com ele. Assim sendo, e pelas características do tecido destas “bexigas”, elas nunca se esvaziam completamente, havendo sempre um resto de ar dentro ( chamado “ar residual”) e o espaço que as “bexigas”ocupariam quando cheias são mantidas pelas estruturas ósseas e musculares da caixa torácica (vocês sabem, as costelas) que mesmo se deslocando no espaço, realmente não aumentam nem diminuem o seu tamanho. Os dois possíveis canais de entrada de ar para os pulmões são a boca ou o nariz. vamos tratar disto mais tarde.
Por uma ação que se inicia ao nascimento, quando pela primeira vez o bebê respira inflando os pulmões que estavam vazios, tem seqüência uma série de atos e movimentos até mesmo algumas contrações musculares que se repetem talvez milhares de vezes todos os dias. É aqui que entra a parte da Física: quando a pressão dentro dos pulmões fica igual ou maior que a do meio externo, paramos de inspirar, e quando a pressão interna dos pulmões torna-se menor que a do meio externo, ou seja, uma vez que os pulmões fiquem cheios, tem início a expiração, ou seja, o ar sai dos pulmões até que, novamente a pressão de dentro dos pulmões fique menor do que a do lado de fora, e então eles começam a se encher novamente até que a pressão de dentro fique igual ou maior do que a pressão de fora dando início ao ciclo novamente. Assim sendo, sentados, vendo TV, dormindo o ar entra por forças físicas e sai por forças físicas.Alguém falou em fazer força em algum lugar…??? NÃO.
As forças musculares são necessárias nesse conjunto quando tratamos de usar o ar da expiração para falar. Daí torna-se imprescindível uma respiração correta e um controle muscular bastante grande. Mas, que parte deste sistema se move ? É por isso que hoje eu tenho aqui este esquema representando o sistema respiratório. Os pulmões estão cercados por estruturas ósseas: na frente e dos lados, as costelas; em cima, os ossos dos ombros e órgãos vitais tal como o coração; atrás, a coluna vertebral, e embaixo..???? Aí sim está a parte móvel do sistema: o músculo diafragma.
O diafragma é o único músculo que se movimenta neste sistema. Ele assemelha-se a uma faixa elástica com uma certa largura. Os pulmões ficam em cima dele e quando ele se movimenta para baixo, os pulmões têm um espaço maior, quando se movimenta para cima, têm um espaço menor. O diafragma é que indica a “profundeza” da respiração, seu movimento indica o respirar fundo. A respiração profunda pode ser realizada o tempo todo, desde que se saiba como fazê-la senão ela se torna cansativa. É o que acontece com os nossos pacientes que não sabem respirar, por qualquer motivo que seja. Quando começamos a ensinar a um paciente os movimentos necessários, explicamos todo este processo, estamos, na verdade, fazendo com que pensem e realizem passo a passo, movimentos que todos nós, “normais” no aspecto da respiração, fazemos sem pensar, o dia todo, todos os dias. É muito cansativo e difícil.
Respirar de modo profundo pode ser observado com a movimentação da barriga. Ela faz o movimento contrário ao do diafragma. Ou seja, quando o diafragma movimenta-se para baixo, dando espaço para que os pulmões aumentem de tamanho durante a inspiração, a barriguinha movimenta-se para fora (ou para cima, caso você esteja deitado).O inverso ocorre durante a expiração: o diafragma movimenta-se para cima, empurrando os pulmões, diminuindo o espaço deles e a barriguinha vai para dentro (ou para baixo).
É bastante comum que um paciente que inicie o tratamento sinta tontura durante as primeiras vezes que treine a respiração profunda. Afinal, é como se ele estivesse “bêbado”de tanto ar, seu sistema ainda não sabe o que fazer com tanto ar e, provavelmente, o paciente está fazendo muita força e respirando muito mais do que seria necessário só para garantir que vai fazer certo.
Acredito que, agora que todos vocês estão dominando a fisiologia respiratória, vou lhes dar um tempo para pensar e digerir toda esta informação. Aí existem pontos muito importantes para explicar porque pode ser tão difícil aprender a respirar corretamente depois de ter se passado 5, 10 ou 15 anos respirando de maneira inadequada.
Da próxima vez, vamos nos ater aos canais de entrada de ar: o nariz e a boca. Vai ser muito interessante. Aguardo vocês.
* Carla Nechar de Queiroz é Fonoaudióloga chefe do Serviço de Fonoaudiologia da SPO
Formada pela EPM (atual UNIFESP) – Mestrado na Illionois State University – CRFa. 5263