Por: Isabel Fomm Vasconcellos
É comum, nos dias de hoje, ouvir da boca de mulheres – mesmo as esclarecidas, independentes e inteligentes – a clássica afirmação de que “sexo, para mim, só com amor”.
Isso, embora nem sempre pareça, é apenas mais um preconceito e fruto da histórica repressão sofrida pelas mulheres até muito poucas décadas passadas.
Às mulheres, a nossa civilização judaico-cristã ocidental, sempre negou o direito ao prazer sexual. Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a partir dos anos de 1950, com o crescimento do feminismo no século XX e com o advento da pílula anticoncepcional, no começo de década de 1960, a sociedade começou a admitir o prazer sexual também para as mulheres e a desvincular a atividade sexual da atividade reprodutiva.
Mas a sonhada revolução sexual dos jovens revolucionários dos “sixties”, cujo um dos slogans era “faça amor, não faça a guerra”, está longe de ser realidade.
A maioria das mulheres de hoje em dia fazem sexo por uma infinidade de razões, quase nunca por prazer.
Também, pudera! Criamos os nossos filhos homens para serem uns atletas sexuais e as nossas filhas mulheres para esperarem pelo príncipe encantado.
Quando uma mulher diz que só faz sexo por amor, está dizendo, de fato, que fará uma concessão ao homem amado.
No entanto, apesar de toda a repressão sexual, as mulheres têm, é claro, desejo. E o pior é que geralmente confundem o desejo com paixão.
Para o homem, essa separação é muito clara. Quando ele deseja uma mulher, sabe bem que apenas a deseja. Ele pode vir até a se apaixonar por ela, pode vir a amá-la, mas, enquanto a deseja, sabe que é desejo, tesão e pronto. Nada mais, por enquanto.
Uma mulher, quando deseja um homem, raramente reconhece isso. Diz logo que está apaixonada.
Paixão e amor são eventos muito mais raros, na vida, do que o desejo. Mas as mulheres, condicionadas a fazer sexo apenas por amor, vivem confundindo as coisas.
E, depois, se desesperam quando ele não telefona.
É preciso acabar com os sonhos românticos preconceituosos, se quisermos ser felizes, nós mulheres e, um dia, de fato, ver surgir o verdadeiro amor em nossas vidas. É preciso refletir sobre isso e perceber que não podemos mesmo estar já apaixonadas por aquele gato que conhecemos ontem à noite na balada. Podemos desejar o cara. Talvez até esse desejo evolua para o amor. Mas é preciso saber distinguir o puro e simples (e humano!) desejo sexual de eventos mais raros do que o amor ou mesmo a paixão.
E, se desejamos um homem, por que não ir para a cama com ele, se ele assim também o desejar? Sem fantasias românticas. Sem precisar da desculpa do amor para justificar o nosso desejo.
Aprendendo a dissociar o amor e o desejo seremos mais felizes e menos dependentes. Sofreremos menos. E, quando o amor de verdade, pintar na nossa vida, seremos capazes de reconhecê-lo. Pense nisso.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora, sendo “Sexo Sem Vergonha” seu último livro, publicado pela Soler Editora.
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