Por: Eliane Alabe Deblauw*
Seu príncipe encantado virou sapo e desapareceu?
Se virou sapo ele pode ter sido um Don Juan. Aquele relacionamento inesquecível que começou imprevisivelmente e desapareceu de sua vida como um passe de mágica. O chamado relacionamento Don Juan.
Don Juan é um personagem que virou uma lenda e aparece em grandes obras literárias. Desde o século XVI, ele vem sendo cultuado como um mito de grande sedução para o público feminino, conhecido como o despedaçador de corações. Ele é caracterizado como um homem romântico, apaixonado, galanteador, narcísico, irresistível, amado e odiado ao mesmo tempo pelas mulheres.
Don Juan é um grande conquistador, que utiliza sua magia para seduzir a suposta amada. Quando a mulher, enfim, se apaixona por ele, o Don Juan perde totalmente o interesse por ela e a abandona. Então, ele parte para outras conquistas sem deixar rastros à sua amada vítima.
Existem diversas interpretações para compreender o comportamento de um Don Juan, mas nada tão contraditória quanto a visão de uma mulher apaixonada. A mulher apaixonada tem uma mistura muito confusa de pensamentos e sentimentos fortes. Ao mesmo tempo que ela o vê como apaixonante, ela o vê como um sedutor barato, cruel e mulherengo. Ela se sente culpada, co-dependente emocionalmente, nega que ele o tenha abandonado e tenta arranjar mil desculpas para justificar o afastamento dele.
Na verdade, ele não está preocupado com os sentimentos delas. Ele busca satisfazer seu próprio ego, para sentir maior segurança e elevar sua auto-estima. O Don Juan, por essência, é imaturo emocionalmente; incapaz de assumir compromissos maduros; ele não assume responsabilidades de casamento, casa e família.
Ele e apaixonado por si próprio.
Por mais antiga que seja a lenda do Don Juan, o comportamento e as características dele aparecem em muitos sedutores da atualidade. Todos nós conhecemos uma história de Don Juan, ou de alguém muito próximo que tenha sido vítima de um príncipe que virou sapo, ou que sofra de DonJuanismo.
Na atualidade, essa forma de relacionar-se vem sendo praticada por muitos jovens e adultos; e tanto homens como mulheres estão repetindo as características do mito Don Juan, de sedução e conquista.
A falta de compromisso afetivo entre duas pessoas, seja num namoro curto, numa transa casual, ou na modalidade de namoro conhecida como “ficar” , “sair”, “curtir”, “transar”, “pegar na balada”, são relacionamentos imaturos, superficiais e rápidos que elevam a oportunidade de se colecionar um número cada vez maior de parceiros (as).
A nova versão do DonJuanismo e da DonJuanita no novo milênio é caracterizada como um breve relacionamento sem considerar a possibilidade do amor, como uma satisfação rápida sem compromissos, com envolvimento que requer intimidade superficial, beijos, toques, sexo e a fama de serem os bons de cama. A conquista de homens ou mulheres comprometidos também faz a sedução ser um grande desafio.
Outro dia, um leitor me escreveu perguntando qual a receita para ser um bom sedutor de cama e qual a receita de Don Juan para enlouquecer sua parceira. Parece que alguns homens estão pensando que conquistar uma mulher é ter uma receita mágica muito boa para aplicá-la a qualquer mulher. Parece que conquistar uma mulher e ter uma boa receita de como fazer sexo é ter o título de melhor amante do mundo.
Na Internet e na mídia impressa encontramos várias destas receitas ensinando posições novas para o sexo, uso de técnicas sexuais, como chupadas e lambidas pelo corpo da mulher, como se ela fosse um picolé a ser degustado. O Don Juan do século XVI não ousaria tanto, nem tinha como meta envolver-se sexualmente.
O que está faltando ao Don Juan do novo milênio é a mesma habilidade do mito Don Juan, que enlouquecia as mulheres com romantismo e as fazia únicas, complexas e compreendidas. Não dá pra acreditar em fórmulas milagrosas e divulgá-las pela internet e aos amigos. O que uma mulher gosta na sua intimidade, não pode ser generalizado para todas mulheres.
Apesar desses jovens dominarem muito bem a arte de conquistar e seduzir o sexo oposto, eles estão em sua essência bem insatisfeitos, as vezes com depressão, ansiedade e dificuldades de relacionamento. Eles estão compulsivamente buscando algo para assegurar-lhes a auto-confiança, o poder e controle, e o reconhecimento. As mocinhas estão a espera de um príncipe encantado, o Don Juan.
*Eliane Alabe Deblauw, atualmente vive na Califórnia e trabalha em Coalition for Family Harmony – uma organização sem fins lucrativos que atende vitimas de violência doméstica e abuso sexual, e familiar em divórcio; Ela é Psicóloga Clinica com Master in Clinical Psychology – Marital Family Therapy at California Lutheran University – Califórnia, USA; Especialização em Mediação de Família em Divórcio; Life Ontological Coaching from Newfield Network, Denver- Colorado; Terapeuta de EMDR para vítimas de trauma e Estresse Pós-traumático; Psicodramatista, e Sexóloga;
website: www.venturalifeimprovementcenter.com
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Foto: konradbak l Depositophoto