Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Quando eu tinha 15 anos de idade (e note que isso foi nos velhos tempos de 1966) meu pai me chamou para uma daquelas conversas sérias. E me disse:
– Minha filha, você não vai trabalhar?
E eu, assustada com a possibilidade de que ele e minha mãe estivessem indo mal em seus respectivos negócios:
– Por que? Você precisa que eu trabalhe?
– Eu não, respondeu ele, graças a Deus. Mas quem precisa é você mesma. Você não é mulher de ficar dependendo de marido. Você vai precisar ter o seu próprio dinheiro.
Meu pai nascera em 1908. Eu o achava um quadradão em 1966 e nunca pensei que ele compreendesse a minha necessidade de ser independente.
E eu fui. Fui trabalhar no jornal do meu bairro, o Jornal do Brooklin, como repórter e fotógrafa, profissão, essa última, que eu aprendera com o meu próprio pai.
Trabalho até hoje e sou independente até hoje. Minha independência e as ideias dos anos 1960 me levaram também a exercer, além da liberdade econômica, a liberdade sexual. Por isso muitas vezes fui tachada de prostituta por outras mulheres preconceituosas, que me eram próximas. Eu ria, porque prostituto é aquele que faz sexo por dinheiro e eu, pelo menos, sempre fiz sexo por prazer e nunca por dinheiro. Verdade que há três décadas me casei com o amor da minha vida e nunca mais fiz sexo sem ele, porque com ele sou feliz.
Por tudo isso, minha história pessoal, me assusto bastante com esse batalhão de moçoilas que se oferecem descaradamente hoje em dia, como verdadeiras deusas do sexo, visando, de fato, usufruir de vantagens econômicas. Num país onde as mulheres são 53% da força formal de trabalho e que, legalmente, conquistaram a igualdade, me parece muito estranho que uma grande parcela das moças ainda sonhe com o sexo como moeda, com o sexo como passaporte para uma união que lhes proporcione estabilidade econômica.
Não dá pra confiar no próprio taco e ganhar sua própria grana, conquistar sua própria posição em vez de se vender pela grana e pela posição de terceiros?
Posar nua para a revista pode render um apartamento. Ou mais. Exibir seu corpo siliconado pode resultar em fama e dinheiro. Aparecer nos círculos sociais, exibindo seus dotes sexuais, pode render um casamento ou mesmo uma amigação que lhes proporcione conforto e status.
Não sou moralista, como já se viu… risos… Nada contra ganhar grana posando nua. Tudo contra usar o sexo como moeda.
Depois de tantas conquistas femininas nas últimas décadas, é decepcionante constatar que muitas e muitas mulheres ainda não acreditam que possam subir na vida sem usar o coitado de um trouxa de um homem (encantado ou apaixonado) como escada.
No entanto, embora a sociedade e a televisão alimentem esse tipo de sonho.
As uniões entre homens e mulheres, baseadas unicamente na atração física, raramente são felizes e duradouras. Para viver juntos e felizes, homens e mulheres precisam do sexo, sim, mas precisam também de muito mais que o sexo: amor, paciência, tolerância, compreensão e apoio mútuo.
As mulheres, normalmente, costumam associar o sexo com amor e carinho e, para terem prazer, precisam das preliminares românticas. Muitas se submetem ao desejo masculino, fingindo um prazer que na verdade não sentem, por puro interesse. Interesse esse que é às vezes romântico e às vezes material.
Não sei se existe pesquisa, mas se existir certamente revelará que a maioria das mulheres que são economicamente independentes e bem-sucedidas em suas carreiras profissionais estão sozinhas e têm dificuldade em encontrar um parceiro. Milênios de dominação econômica fazem os homens temerem as mulheres independentes. Muitos maridos sabotam as atividades profissionais de suas mulheres, temendo que elas acabem sendo mais bem-sucedidas do que eles. Não se pode culpá-los. Afinal, a sociedade educou as mulheres para a dependência e os homens para serem os provedores, os chefes de família.
Outras mulheres preferem renunciar a brilhantes carreiras para assumirem o papel de mães e esposas. É complicado demais mudar de papel social. É complicado demais ser mulher, mãe, companheira e, ainda, profissional de carreira.
No entanto, sem dúvida, homens e mulheres seriam mais felizes juntos se livres desses estigmas sociais. Se admitissem e respeitassem suas inclinações e talentos naturais. Se não fizessem do sexo, uma moeda. Se um não dependesse do outro.
Mas talvez eu esteja sonhando.
*Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e apresentadora de TV
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