Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
A maioria dos infelizes tem muita dificuldade para engolir ou desejar a felicidade alheia. É claro que existem espíritos generosos que, mesmo vivendo situações de pouca felicidade, desejam sinceramente ver o sucesso e a alegria daqueles que são objeto de seu amor. Mas, convenhamos, isso é raro. A inveja, o ciúme exacerbado, a maledicência e outras pérolas do pensamento negativo são sempre fruto de uma infelicidade crônica.
Não é diferente quando se trata de sexo.
Embora, hoje em dia, todo mundo finja ser sexualmente feliz (porque é isso que está na moda) dá para ver claramente a infelicidade sexual nas fofocas do dia a dia. Quem condena a vida sexual de alguém, pode ter certeza, está mal na sua própria.
Homens, por exemplo, contam muita vantagem, vivem falando do seu próprio desempenho, mas a maioria deles faz sexo por alívio e não por prazer. Já que, neles, a necessidade sexual é mais premente do que em suas companheiras (que precisam de mais estímulos do que os machos para ver desperto o desejo), eles vão direto ao fim, ao objetivo. Ou seja: dão uma metidinha rápida para se aliviar, viram para o lado e dormem, deixando a mulher a ver navios.
Mulheres, por exemplo, vão para a cama pelos mais variados motivos, e, dentre esses motivos, raramente está o prazer delas mesmas. A maioria faz amor para dar prazer ao companheiro e não buscando o seu próprio. Outras vão para a cama por interesses vários: por dinheiro, para manter o amante que as sustenta ou lhes dá a falsa sensação de serem amadas, para “segurar” o homem ao seu lado, por interesses profissionais, etc.
Além disso, as mulheres foram tão culturalmente reprimidas pela nossa educação ocidental e machista que sempre precisam da desculpa do amor para reconhecer o tesão, isso quando existe o tesão.
A barra sexual é tão pesada (que o digam os profissionais da saúde que trabalham em serviços de ajuda sexual) que faz com que a maioria das pessoas esteja, hoje, mal resolvida sexualmente.
Todos mentem. Afinal, o sexo está supostamente liberado. Campeia solto na mídia e, se até algumas décadas passadas era vergonhoso ter prazer, hoje o vergonhoso é admitir que não se tenha.
É claro que existe muita gente que é feliz na cama. Mas, não se iluda, são as exceções que confirmam a regra.
Atrás de todo discurso repressivo e moralista está a infelicidade sexual. Quem se escandaliza com o comportamento dos outros, quem odeia homossexuais, quem condena o outro por sua vida sexual, certamente é insatisfeito. As pessoas bem resolvidas absolutamente não se metem na vida dos outros. A elas pouco importa as opções sexuais das outras pessoas. Só os infelizes, os reprimidos, os que se sentem de alguma maneira culpados por seus desejos e fantasias, é que estão dispostos a condenar o outro, a atirar a primeira pedra.
Por isso seria bom que nós todos, antes de sair ditando regras para o comportamento dos outros, examinássemos os nossos próprios preconceitos, encarássemos as nossas próprias limitações e fantasias sexuais, tentando afinal compreender que o sexo é a maior força criativa da natureza, que é sim uma necessidade básica do ser humano, como o é se alimentar e ter prazer em comer. Com a vida sexual em ordem cada um de nós seria mais feliz e, sendo mais feliz, seria mais tolerante, mais generoso, mais humano, mais compreensivo e menos fofoqueiro.
A verdadeira revolução sexual, tão cantada nas décadas posteriores aos famosos anos sessenta, acredite, nunca aconteceu. E só pode acontecer dentro de cada um de nós.
Todo o ser humano, independentemente de suas convicções morais e religiosas, tem, sim, direito ao prazer. E esse é um direito que se conquista.
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, meio dia, na Rede Mulher de TV) e autora de vários livros, entre eles “Sexo Sem Vergonha”, Ed. Soler.