Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Muita gente faz sexo por obrigação. Mas não apenas, como se possa pensar à primeira vista, os profissionais, garotas e garotos de programa. Muitíssimas mulheres, eu me arriscaria a dizer (porém não tenho dados) que a maioria das mulheres faz sexo por obrigação. Algumas, movidas pelo interesse de arrumar um cara para pagar-lhes a conta da vida, para melhorar sua posição social, porque sabem, calculadamente, que o homem as deseja e que, se satisfizerem esse desejo, podem segura-lo por algum, ou muito, tempo. Geralmente essas interesseiras arrumam logo uma gravidez.
Mas não é dessas mulheres que eu quero falar hoje.
Quero falar das esposas, aquelas que se casaram por amor mas nunca conseguiram descobrir o verdadeiro prazer. E, acredite, minha amiga, elas são muitas e muitas.
As razões para isso também são muitas e remontam, como quase todos os problemas femininos, à histórica dominação do nosso sexo. O prazer sempre foi, até muito recentemente, proibido às mulheres consideradas “direitas”. Sexo só com amor ainda é um preconceito muito encontrado entre as mulheres. E não existe para os homens. Os homens fazem sexo pelo sexo, com ou sem amor. Já as mulheres foram condicionadas a acreditar que só o amor justifica o sexo. Além disso, muitos homens ainda acreditam (e nas gerações mais velhas isso é bem pior) que a esposa não é para o prazer, é para a procriação. Imagine fazer sexo oral com a esposa! – pensam alguns – Isso é para as prostitutas e as amantes. Pensando assim, esses homens não têm nenhuma preocupação com o prazer de suas mulheres, fazem um sexo mecânico e papai-e-mamãe com elas, privando-as assim de descobrir o verdadeiro gozo.
Outras tiveram uma educação tão repressora que jamais conseguem se soltar na cama, cheia de culpas e medos.
Um dia desses ouvi uma mulher conversando no cabeleireiro. Ela ouvia a narrativa de uma amiga que falava de uma terceira que havia se casado com um velho multimilionário. A senhora em questão caiu na risada e disse:
– Que ótimo! Ficou rica e nem vai precisar ficar fazendo amor com ele!
Fica claro que, para essa senhora, fazer amor é apenas uma desagradável obrigação do casamento e ela certamente acredita que seja assim para todas as mulheres pois não estava nem aí para que os outros ouvissem a sua preconceituosa opinião.
Ah, deve estar pensando você, mas hoje é diferente. As meninas fazem sexo com os namorados, desde o começo da adolescência e os meninos não pensam mais assim, o machismo está acabando. Será mesmo? Será que as meninas dão pros namorados porque estão cheias de desejo ou por que apenas sabem que, se não derem, eles logo se cansarão delas e procurarão alguma outra que dê?
Na libertária década de sessenta, uma das reivindicações estudantis era a implantação de aulas de educação sexual nas escolas. Até hoje tem gente tentando fazer isso e a sociedade, medrosa e conservadora, não deixa.
Mas é a própria sociedade que se beneficiaria muitíssimo se houvesse educação sexual nas escolas e também na família. Pessoas sexualmente satisfeitas são muito mais bem resolvidas, têm mais saúde física e mental. Hoje, em alguns hospitais públicos, existem setores de sexologia para ajudar as pessoas com dificuldades sexuais. E isso também foi uma luta no meio médico, a implantação desses serviços esbarrou nos mesmos preconceitos que impedem a implantação de aulas de educação sexual nas escolas.
Bah! Que medo de ser feliz, hein?
O ser humano foi criado para ter prazer. A natureza inventou o prazer para garantir a procriação. Sem prazer, quem iria querer procriar? E a ciência inventou os anticoncepcionais para liberar o prazer. Mas ele continua preso, para muita e muita gente, na imensa teia dos medos e dos preconceitos.
E, tristemente, há quem faça sexo por obrigação. Por obrigação!
* Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexa, 14h00, ao vivo, na Rede Mulher de TV) e autora do livro “A Menstruação E Seus Mitos”, Ed. Mercuryo.